Leva algum tempo pra juntar os pedaços de madeira certos, e carregar tudo de um lugar para o outro, mas no fim vale a pena. Você tem uma casa na árvore, na melhor árvore de todas.
Sua casa pode parecer velha e meio quebrada, mas ela nunca vai quebrar. Vai ficar sempre ali, mesmo que as madeiras pareçam podres, e tenha musgo nos cantos.
Você usa jornais para forrar algumas partes da sua casa na árvore, e vai perceber que esses jornais são seu último contato com a sociedade. Vai ver as pessoas indo e vindo lá embaixo, apressadas, olhando par o chão ou pensando no que estão atrasadas dessa vez.
Vai ver seus amigos passarem, vai se esquecer que está sozinho lá em cima, acenar pra eles. Mas eles não conseguem te ver. Ninguém consegue. Você está tão alto que se conseguisse subir em cima da sua casa na árvore e ficasse na ponta dos pés, pode tocar o céu.
Você não precisa respirar aqui em cima. O último ar que você inspirou ainda está no seu peito, guardado como uma lembrança. Lembramças que você deixa guardadas num baú laranja, escrito “Biscoitos”.
O baú de biscoitos fica em cima de um buraco, o único buraco no chão da sua casa.
Ali na árvore ao lado tem um balanço, e por muito tempo é seu único desejo chegar naquele balanço.
Mas você só poderá chegar se desmontar sua casa para fazer uma ponte.
Não existe mais um canto da casa, você fez sua ponte, chegou no balanço. Naquele canto tinha seu baú de biscoitos, que não existe mais também.
Você senta na balança e por alguns momentos nunca mais quer sair dali. apesar do frio que faz lá fora.