i’d rather be with and animal

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[youtube https://www.youtube.com/watch?v=sIn_8EZWH7k&hl=pt-br&fs=1&&w=560&h=340]

Uma vez eu li um livro onde tinha um cara que deixava uma mensagem sem sentido em lugares públicos, pra ver quem respondia.
Aconteceu isso comigo.
Até achei que seria alguém que leu o livro, mas a maior probabilidade era que fosse só uma mensagem aleatória como aquelas de banheiros públicos e bancos de praça.

Dizia pra perguntar pela Margot na biblioteca municipal.

O maior motivo mesmo que leva as pessoas a fazer esse tipo de coisa (ir atrás da Margot) é o tédio, nada além disso. Alguns tem esperança mesmo que a Margot seja algum ermitão de qualquer civilização antiga e tenha os segredos do universo, mas no fundo é o tédio.

Tinha uma Margot lá, ela saiu de uma sala cheirando a pó, com 2 grandes luvas de couro, me olhou e disse que não, ela não era prostituta.

Falei que não tinha vindo procurar ela por isso, queria conhecer quem escreveu as mensagens.

Ela riu e disse “até que enfim, o último dos lunáticos”.

Me deu um telefone, e insistiu para que eu ligasse do orelhão em frente a biblioteca, disse que ‘ele’ não aceitaria ligações de outro lugar.

Liguei e atenderam mas não falaram nada. Pensei que não tinha nada a perder mesmo, e disse a primeira coisa sem sentido que me veio na cabeça:
– Esses dias nós carpi um elétron;

Ele só falou pra mim estar na rua Keaton, perto da casinha de cachorro quente virada, depois das 8h.

Na rua Keaton tinha sim uma casinha de cachorro quente, um trailer, melhor dizendo. Só que ele não estava virado. Era dessas lanchonetes que entupiram a cidade com filiais e agora monopolizam tudo que é casinha de cachorro quente por ai.

Fiquei esperando um tempo e veio um cara de preto, me deu um soco na orelha, e falou pra ajudar ele a virar o carrinho.
Ficamos tentando por um bom tempo, nada de conseguir, era pesado demais.
– E agora?
– Sei lá, agora não podemos nos encontrar mais.
– Porque?
– Porque era pra você me encontrar perto da casinha virada, e ela não está virada.
– Hm. Ok, até outro dia.

E fui embora.

Passou uns dias e voltei no orelhão na frente da biblioteca, liguei pra ‘ele’:
– Vai na rua Keaton, a casinha vai estar virada.
– Como conseguiu?
– Ah umas cordas e um litro de vodka pra um mendigo.
– 8h?
– Pode ser.

Cheguei lá e o mendigo que dei a vodka tava dormindo, a casinha virada, com molhos ou algo que o valha escorrendo pra um boeiro perto.
Ele veio de preto de novo, só que sem capuz:
– Fez muito barulho quando caiu?
– Aham, mas que imaginava. (nunca imaginei o barulho que ia fazer, pensando melhor) E agora?
– Você me ajuda numas coisas.
– Ok.

Por vários dias só nos falávamos pelo orelhão da biblioteca. Ele perguntava se eu conseguiria arrumar o próximo item da lista, o que geralmente era meio trabalhoso.
Consegui os balões (de borracha reforçada, nem sabia que existia isso, mas na mesma ida a loja descobri que existem mais tipos de leite vendido em sacola que leite vendido normalmente), as cordas para alpinismo, uma coleira de cachorros espumada, vários litros de gás hélio (você compra gás por litros, e eles tem toda uma tabela comparativa com preços de litros de água), um gps, e coisas imbecis como amendoins e barras de cereal com amendoas.

Chegou um dia que encontrei ele no galpão onde eu guardava todas as coisas que comprei, sem nunca questionar porque comprava, ou pra que comprava.
Ele falou que pra ajudar a levar tudo.

Chegamos num morro, dia bonito, sol, e toda aquela idiotice que adoram.
Ele enxeu os balões, amarrou cordas, a coleira na ponta de tudo.
Pôs ela no pescoço, prendeu um cartaz no peito, feito de plástico, de forma que não voasse nem nada parecido.
Quando eu puxei a corda os balões subiram meio rápido, e assim que a corda esticou o pescoço dele deu um estralo enorme, maior que imaginei (esse barulho eu imaginei), e ele subiu junto, já meio mole.

Fez sucesso um corpo voando por ai, até os balões murcharem e ele cair. Eles descobrindo que no cartaz estava escrito “Dedicado a todos vocês”.

Mais umas 60 pessoas no mundo todo fizeram o mesmo depois disso. Descobri que ele era o líder de algum grupo aleatório que se revoltava com alguma coisa qualquer.

Nunca cheguei a sentir falta, assim, como sentem normalmente.

Mas passei a ter medo de várias coisas… como quando as pilhas do mp3 estão prestes a acabar, e você ainda não chegou em casa. É a coisa mais assustadora do mundo, imaginar que você tem que andar no meio deles todos, sozinho.

Às vezes me pego sentado, enrolado numa coberta, com capuz, fingindo estar seguro numa fortaleza, ou num forte indígena, sempre gostei de fortes indígenas.

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