Why is a black light not black?

Why is a black light not black?

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Peguei o jornal na parte de classificados como de sempre, procurando um emprego deprimente que durasse pelo menos uns 15 dias e não envolvesse fezes ou sodomia, e encontrei uma coisa curiosa.
Tinha um anúncio simples, com meu nome (e um “sim, você mesmo, de azul” depois) e um endereço.
Achei que era piada de algum amigo meu, antes de lembrar que eles não falavam muito comigo depois do emprego envolvendo fezes (e pararam definitivamente depois do envolvendo sodomia), mas e dai, não tinha nada a perder.

Era um prédio pequeno, daqueles caindo aos pedaços, que sempre tem uns canos legais na parte de fora (eu sinceramente não espero que você também ache eles legais… na verdade não espero nada de você), e um cachorro que fica sentado nos degraus da entrada.
Lá dentro no apartamento 11 tinha uma velha cega que deixava a porta aberta e sempre ouvia o canal de anúncios idiotas e repetitivos no volume máximo, se você tentasse reclamar com ela ela atirava. Sério.
No 12 ficava o lugar que eu queria, uma porta com uma placa suja e torta pendurada escrito “Sim, é aqui” e um sofá típico de sala de esperas. Tinha um cheiro de baunilha também.

Sentei no sofá e logo saiu uma mulher com cara de irritada falando que se “você não me falar agora mesmo como conseguiu saber disso vou chamar a polícia”. Atrás dela veio outra mulher, essa com cara de “foda-se você” e um cachecol enorme com as pontas arrastando no chão, e tênis roxo.

Quando a mulher histérica saiu a outra olhou pra mim e disse que aquela era minha mesa, que se eu precisasse mandar alguém vir ela avisaria, e que a baunilha era porque um executivo idiota vomitou no sofá inteiro depois que saiu da sala semana passsada. E o nome do gato era Pergaminho. O gato cinza, não o preto, o preto era da Sra. Needle, do 25.

Basicamente ela conseguia ver o futuro. Tudo mesmo, seu nome, o que ia acontecer e tal, só não conseguia ver o dela, e acho que se conseguisse teria se matado já, porque se eu fosse deus não daria praquela mulher o melhor futuro do mundo. Não daria pra ninguém eu acho, talvez pro Pergaminho.

Só que óbviamente as pessoas que vão nesse tipo de coisa nunca esperam mesmo que eles consigam ver o futuro, eles só querem conselhos retardados como “acenda 7 velas e queima a cueca dele junto com rosas lilázes da tasmânia” ou “não, ela não vai voltar pra você… mas tem uma morena no meio da sua linha do amor”.

Tinha alguns clientes que de tão insuportáveis ela mandava eu ligar e ler uma cartinha com o futuro e as respostas pra tudo que eles perguntariam antes de virem pra ca e surtarem. Claro que ela não recebia nada com isso, mas era prazeroso, e eu entendia essa parte…
Outros achavam que era alguma tipo de brincadeira de mal gosto ou que ela era do governo.

O Pergaminho era o único gato que conheci que comia aspargo, não me pergunte como ele começou a comer aspargo, mas era engraçado ouvir o barulho deles mastigando aquilo e brincando com os talos.

Ontem a mulher disse pra mim que hoje a velha cega do canal dos anúncios ia atirar num sujeito que vendia seguros, e errar e acertar em mim. O fato dela ter me contado ja dizia que eu viria mesmo sabendo disso.

O tiro pegou no meu estômago, e doeu bem menos do que imaginava… sei lá se o corpo entra em choque e te deixa meio zonzo ou algo que o valha, mas cai no chão e fiquei por ali mesmo, rindo um pouco por duvidar do que ela disse que iria acontecer.
O Pergaminho veio e largou um pedaço de aspargo perto de mim, mas realmente não estava com muita vontade de aspargo antes de morrer…lembrei de ovos de codorna, se ele deixasse ovos de codorna eu comeria.

No fim ela veio e pendurou num prego solto que tinha perto de onde eu caí um daqueles aromatizantes em formato de pinheiro… eu nunca tinha pensado se eles realmente cheiravam pinheiro, mas cheiram sim, sabe quando você corta um pinheiro (não eu nunca cortei um, mas foda-se) e logo em seguida vem aquele cheiro. Não sei de onde ela arrumou, mas era melhor que aquela baunilha com vomito.

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