Se pudesse reviver um dia de sua vida, qual seria? A primeira resposta é algum marcante, óbvio. Mas você quer mesmo arriscar estragar esse dia? Porque convenhamos, as chances de acabar diferente, e pior, é enorme.
Na mesa, em meio a um jogo de cartas confuso demais, estavam quatro amigos de infância. A solidão, o desgosto, a indiferença e a morte. As ovelhas negras do panteão de sentimentos. Todos bebiam água, tinham hábitos saudáveis, mas responsabilidades terríveis. Não conversavam. Não tinham do que falar, não queriam saber de histórias do trabalho um do outro, ou de suas preocupações. Somente sentiam confiança entre si. Aquela credibilidade dos excluídos. Só compartilhavam os sentimentos. Menos a morte. Não tem como sentir a morte. Quando o faz, é tarde demais. Ela sentia, assim como os outros, a solidão por ser quem era. O desgosto por ter de fazer o que fazia. A indiferença pelo que ouvia em seus julgamentos, em tribunais mortais. Porém, nenhum dos seus amigos sabia o que era a morte. E nunca saberiam.
Ouvimos hora ou outra alguém pedindo para o tempo parar naquele instante, em um desejo de querer viver aquilo para sempre. Isso nunca funcionaria. Estragamos tudo que há de bom. Quanto mais tempo temos para interferir, maior é a chance de apodrecer. Quanto antes nos conformarmos com a inabilidade perante o destino, melhor. Não peça pela chance de reviver o que foi prazeroso. Você destruiria.
O jogo sempre acabava quando a morte estava com mais fichas. Eles sabiam que não conseguiriam reverter. Alguém levantava da mesa e todos seguiam seu caminho, mas o jogo nunca tinha um fim definitivo. Talvez porque todos os fins possíveis estivessem jogando.