Encontrei mensagens em um banheiro público. Estavam espalhadas entre as doze cabines, foi trabalhoso encontrar todas, entender aquela caligrafia sofrível e botar tudo em ordem. Não valeu nem um pouco a pena.
Não chamaria isso de viver, está mais para matar o tempo.
Um homem carregando uma mala preta caminha distraído para o trabalho. Ele vira na rua errada. Nunca tinha ido por aquele caminho. Nunca fugiu de casa, nem viajou muito longe, ou provou queijos exóticos. Não sabia que naquela rua tinha um restaurante indiano. Não sabia falar francês, nem pintar telas. No final da rua ele estava sem sua mala preta. Comprou um sorvete e foi embora.
Mas tudo bem, não quero dar uma de reclamão melodramático nem nada. Nesse momento só desejaria que meu cérebro conseguisse ouvir música e dormir.
Exatamente às três e quinze da tarde o chão se transformou em lava. A humanidade foi reduzida a colônias marítimas e pequenos grupos vivendo no topo do monte de escombros que um dia foram metrópoles. Os cientistas restantes tentavam a todo custo explicar o fenômeno, sem sucesso. O planeta tinha se tornado uma enorme brincadeira infantil, e ninguém sabia quem estava no controle.
O instante em que você desliga a música e se da conta do silêncio do mundo é assustador. Sim eu sei que o mundo pode ser bem barulhento, mas um bando de sons sem sentido equivalem a silêncios desconfortáveis, acredite, eu medi.
Um dia os computadores serão poderosos o suficiente para emular mundos com bilhões de consciências, onde uma delas em particular perde seu tempo escrevendo histórias fictícias sobre pessoas que deixam mensagens em banheiros coletivos.
Fico pensando se essas bobagens que escrevo caberiam em paredes de banheiros públicos. Com a droga da minha letra não, isso é certo.
Respondendo a analogia das mães de maneira sincera, sim, eu pularia da ponte se todos meus amigos pulassem. Entendo perfeitamente que poderia ficar e escrever um best-seller sobre isso (claro que dividindo os lucros em parcelas iguais (ou não)), mas da um tempo mãe, todos meus amigos pularam, porque diabos eu ficaria aqui? É trabalhoso encontrar amigos, a senhora não faz ideia.
A culpa é toda minha ou foi a professorinha de cabelo ondulado que não ia com minha cara, não cobrou corretamente as lições de caligrafia e deu no que deu?
Eu avisei que não valeria a pena.