Susto

Susto

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Um homem que preferia certa distância de frituras perdeu a fé segundos depois de um pôr do sol. Não sei dizer exatamente quantos segundos, pois acredito que temos tanto controle da nossa vida quanto temos do que está passando na TV. Assim que a primeira sinapse incrédula percorreu o emaranhado de neurônios ele já poderia ser, tecnicamente, um cético. Os momentos necessários para o homem compreender aquilo não devem ser incluídos na equação.

Não vim falar sobre religião. Quero que pegue sua religião e pendure na árvore de natal e esqueça lá. Vim falar que esse homem perdeu a capacidade de crer. Aquela inocência em que sequer cogitamos os reveses dos caminhos maravilhosos da vida. Enfim, essa mudança o deixou muito assustado. Um simples pôr do sol, tão bonito e imponente, conseguiria alterar o cerne da sua percepção.

Mas ele não era alguém que desistia fácil. No dia seguinte, parou na base do arranha-céu mais alto que conseguiu encontrar. Mais precisamente nas escadarias das saídas de incêndio. Assim que a coloração do céu começou sua transição do azul para o laranja, o homem correu. Sabem, o prédio era tão alto que ao observar o pôr do sol do seu topo, este duraria 2 minutos a mais, devido a curvatura da terra. Você pode ter um salário maior que o de 80% das pessoas no seu escritório, mas seu por do sol não dura 2 minutos a mais. E correndo pelas escadas, ele conseguia diminuir a velocidade em que o sol descia. Se fosse possível subir um lance de escadas por segundo, o movimento do sol literalmente cessaria. Ele teria só pra ele o sol estático e, naquele segundo antes de seus músculos se dilacerarem pela força descomunal, ele poderia pensar no motivo de ter perdido a fé.

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