Arco Voltaico

Arco Voltaico

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O menino sonhou com chuva, muita chuva. E um teto com furos demais. Ele acabaria encharcado, com toda certeza. Acordou e lembrou que teria que fazer as pazes com seu amigo favorito. Não era o melhor amigo, mas era o favorito. Eles tinham brigado por qualquer coisa boba que meninos brigam. Mas boba ou não, estava tirando seu sono. Pensou e pensou na melhor forma de se desculpar, mas sem admitir que estava errado. Desistiu de pensar, e voltou ao seu sonho. Voltou ao teto furado e a chuva. Sentou com a cabeça apoiada nos braços cruzados em uma mesa e esperou sua roupa estar toda molhada. Levantou e estavam demolindo um prédio com ele dentro. A bola de demolição passava a centímetros de onde o menino estava, mas ele não se mexia, continuava no canto distraído com uma formiga carregando o que parecia ser uma cápsula de bala de revolver. Quando a formiga entrou por uma rachadura, o menino chegou no deserto do Saara, descalço. Andava de sombra em sombra por todos os cactus que conseguia, mas o vento começou a aumentar. A areia começou a fazer barulho de vidro novamente, não queria mais ser areia. O menino tentou argumentar e dizer que entendia como ela se sentia, mas a areia não deu ouvidos. O vento jogou ele no que parecia ser uma antena de satélite enorme, onde ele escorregou até estar tão rápido que fechou os olhos e acordou pequeno demais, em cima de uma folha boiando…

E assim, sem mais nem menos, ele desistiu de pedir desculpas para a vida e decidiu viver em outro mundo.

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