Um homem entra nas águas do batismo. Um homem diferente sai, nascido de novo. Mas quem é o homem submerso? Talvez o nadador seja tanto pecador e santo, até que seja revelado para os olhos dos homens.
Zachary Hale
Muito boa essa frase, não? Te faz pensar. Mas te digo agora mesmo quem é o homem submerso. É um pobre coitado que tem o mundo inteiro assistindo sua vida. Todos estão sentados nos bancos duros da igreja esperando ele sair da água. Todos com sorrisinhos parecidos, moldados pela santíssima trindade: um padre, seu advogado e aquele homenzinho vendedor de seguros para automóveis. A arquibancada em silêncio, não podemos ouvir sequer pipocas sendo esmagadas contra os dentes.
O homem submerso não quer sair. Sim, sabe dos perigos de desapontar seu público, mas ainda assim. Sabe que ao sair, terá que assinar milhares de papeizinhos controladores de mentes. Decorar números mágicos salvadores de vidas. Ser responsável pela alegria de atendentes de farmácias. E por falar em alegria, esse era seu ponto fraco. Quando ele saísse das águas do batismo, não haveriam palmas, ou palmadinhas de apoio nas costas, ou alguém entregando um charuto com os olhos lacrimejando. O público levantaria, todos juntos e correriam em sua direção, fazendo as mesmas perguntas: Você está se divertindo? Está aproveitando a vida?
E então esse seria seu dever. Se divertir, aproveitar a vida. Se ficasse um dia só sentado em sua casa comendo amendoim, era tempo perdido. Era um dia que não voltava mais. Poderia conhecer pontos turísticos. Ou dar uma festa. Ou conhecer pessoas novas.
Seria cobrado por aquele dia eternamente. Seria julgado por ele a ponto de sentir-se culpado. Passaria a aceitar convites idiotas de pessoas idiotas para satisfazer uma fome que implantaram na sua cabeça. E na operação esqueceram algo dentro, porque a dor de cabeça era insuportável. E todos os dias depois daquele seriam eternas reuniões pensando em como aproveitar o que se tem. O lugar que está. As coisas ao seu alcance.
Não, ele não queria sair. Se pudesse pedir uma coisa a Deus, seria para fazer a água benta prazerosa para afogamento. Não saberia explicar exatamente como isso funcionaria, mas achava que Deus daria um jeito.