Get used to it

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Então a mulher do restaurante pergunta se eu quero beber alguma coisa. Me esforço pra não fazer aquele olhar  de “por essas e outras que não saio de casa”.

Outra escolha, sempre tem outra escolha te esperando. E se eu escolher suco de laranja? E se escolher água? E se não escolher porra nenhuma? O que o tipo de bebida que pedir agora vai mudar na minha vida?

E não digo isso querendo implicar que essa escolha é irrelevante, bem pelo contrário, dou tanta importância pra isso quanto pra qual membro da minha família foi mais presente na minha educação, ou algo que o valha.
Em uma dimensão paralela existe um ‘eu’ que escolheu o suco de laranja, e que achou o melhor suco de laranja do mundo, e resolveu abrir uma franquia de sucos de laranja semi-naturais (não me pergunte o que é uma droga semi-natural, pergunte pro meu ‘eu’ da outra dimensão). E também existe meu ‘eu’ que pediu uma água, e ela estava na temperatura ambiente, o que me fez perder o apetite e ficar fraco pelo resto do dia resultando numa explosão de ATP menor do que o normal na hora de desviar de um ônibus desgovernado. Esse meu eu agora é um monte de tripas na parede. Definido basicamente pelo que ele escolheu pra beber no almoço.

Existem versão bizarras de mim mesmo em outras linhas temporais e dimensionais, como aquela versão que largou tudo pra se focar na banda de rock adolescente mas teve um filho cedo demais, ou aquele simpático que decidiu estudar e ser alguém responsável, mas acabou com problemas psicológicos sérios envolvendo opiniões alheias a respeito do seu potencial. Em algumas eu sou uma das pessoas mais felizes do mundo, em diversas delas já me suicidei, e em raras ocasiões acabo no meio termo, vestindo gravatas todos os dias e cadenciando os happy hours em semanas que sempre são curtas demais.

Tudo isso acaba virando um fardo pesado demais pra se carregar. Essa versão agora, que escreve isso, não é definitivamente a que mais fez as escolhas certas, e nunca vai ser. Se deixar ou não se deixar atingir por essa merda fatalista? Outra escolha. E descobri ainda que a vida não é dualista, como pessoas mais conclusivas costumam pensar. Ou sim ou não… porra nenhuma. Existe o sim, o não e o ‘foda-se’. Quando você não tem ânimo nem pra pensar se o suco de laranja vai ser melhor do que a água, e acaba não bebendo nada porque responder com um “não quero nada, obrigado” evita que seu cérebro crie hipóteses infinitas pra cada escolha.

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