No caminho de casa parou uma van preta, desceu um sujeito e me deu um soco no estômago que me fez ver estrelas. Fui jogado dentro da van e amordaçado. Outro homem pegou um frasco com comprimidos de uma sacola e moeu alguns até virar um pó amarelado, então misturou isso com água e injetou no meu braço, a agulha ela gelada e comprida.
A van parou e me jogaram pra fora, ainda amarrado e amordaçado. O homem que aplicou a injeção olhou pra mim estirado no chão e disse:
– São doses generosas de otimismo. Achei que você devesse experimentar.
Fiquei otimista por uns 3 dias e meio, apostando na loteria, fazendo entrevistas de trabalho que nem queria e sentando sozinho em bares esperando pela mulher da minha vida.
É claro que nada disso aconteceu, mas a coisa te torna dependente. Você quer esperar mais de tudo, se sentir ansioso por coisas idiotas que não tem a menor chance de sucesso. Precisava dessa droga, então fiz o que podia pra conseguir mais, e consegui, junto com crises de abstinência terríveis e um aumento considerável da minha personalidade autodestrutiva.
Hoje vivo cultivando uma plantação de milho e bebendo chá, longe dessas drogas todas. Semana passada aprendi a fazer um bolo diferente, e posso jurar que senti de novo o gosto do otimismo enquanto ele assava.