Acidflake

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Uma garotinha de cabelos ondulados corria por um milharal o mais rápido que suas perninhas podiam levá-la, até chegar em um celeiro, onde encontrava um canto escuro e apertava seu coelho bem forte. Ela não pedia praquilo acabar, porque uma voz de dentro dizia que não teria fim, que a sensação estaria ali pra sempre. E essa voz crescia, como se injetassem sorvete diretamente no seu peito, se espalhando por tudo.

Então ela acordava, sem medos e sem dúvidas. Acordava para encontrar um porco açougueiro e um javali marceneiro. O porco tinha dezenas de blocos de madeira num saco, mas não fazia ideia da utilidade deles, e vivia dizendo “Só quero uma coisa, uma só, é pedir demais?”. O javali tinha um cutelo enorme e pesado, e vivia praguejando por ter de carregar por todo o lado, e dizia: “A única coisa que tenho, não sei usar.” Logo a garotinha percebeu a ironia, e perguntou porque eles não trocavam de ferramentas. Os dois riram e falaram juntos: “Invejo o que ele possui, mas sei que ele inveja o que possuo, e isso basta.”

Ela tentou argumentar mas logo sentiu aquela sensação de novo, e sabia que precisava fugir, precisava ir pra bem longe, longe de todos. Não queria que aquilo chegasse perto de ninguém, era seu fardo e já não bastava ter envolvido seu coelhinho na história.

Logo a sensação voltava, a vozinha dizendo que nunca ia acabar, nunca. E o frio crescia cada vez mais.

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