Luto

Luto

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eu fecho os olhos e estou boiando em um aquário.

de braços abertos, olhando pra cima sem conseguir pensar em nada. ouço meu nome a distância, como se o som estivesse borrado, fora de foco. abro os olhos e me perguntam se terminei os gráficos, digo que sim.

o aquário é pequeno, com as paredes sujas mas nem tanto, daquele tipo de sujeira que crianças conseguem deixar sem espantar as mães. é fundo pra mim, não vejo o que tem la embaixo, mas não me importo. mergulho e abro os olhos, estão gritando meu nome e rindo, perguntando se a dose foi muito forte, digo que nem tomei. música eletrônica alta estraçalhando os ouvidos, luzes por todo lado, gente se empurrando e dançando em completo caos. não sinto cheiro nenhum há dias, só percebi agora.

lâmpadas transparentes com vagalumes dentro fazem o papel dos peixes e vagam por ai naquele vai-e-vem engraçado que os desenhos animados nos disseram ser normal no fundo do oceano. um deles se aproxima de mim e diz “durma um pouco”. respondo para a mulher que limpa meu apartamento que estou dando um jeito nisso, mas desisti dos remédios, eles só me deixam mais sonolento ainda. tudo está numa perspectiva bizarra, como se o eixo do planeta girasse alguns graus mas ninguém soubesse disso. só eu. e não ia contar a eles.

o fundo do aquário é cheio de comprimidos para disfunção erétil e camisinhas coloridas. uma mão gigante aparece do céu e pega uma seringa usada no chão, fazendo vários comprimidos flutuarem. acordo com alguém me chacoalhando e peço café bem forte. odeio o café do avião mas é melhor que nada. o senhor na minha esquerda diz consertar banheiras. suas clientes são velhas obesas que entopem os ralos com pêlos e brinquedos sexuais de pequeno porte. convido ele sem pensar para ir almoçar na minha casa esse fim de semana e vou tentar dormir no banheiro. imagino ter sentido cheiro de baunilha mas logo desisto da idéia.

o vidro do aquário está trincando, posso ouvir as rachaduras aumentando e o som é incrivelmente parecido com o dos filmes, isso deixa as coisas ao mesmo tempo mais reais e surreais. eu grito sorrindo.

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