Quando preciso fugir, levo um par de meias até o terminal de ônibus e fico por lá. As meias são para me separar das pessoas que só ficam por lá, sem fugir. Mesmo sabendo que não vou mesmo cumprir as promessas que faço sempre, de pedir uma passagem para qualquer lugar (por favor não me diga o nome da cidade) e ir. Tudo ali tem um tom melancólico. Fico imaginando as inúmeras histórias que nunca mais vão estar no mesmo lugar. Todas quietas no seu canto, com pensamentos distantes, planos do que fazer quando chegarem. As histórias que esperam outros para virem buscá-las sempre estão ansiosas, com um medo escondido de que sejam esquecidas ali. Então penso nas histórias que nunca saíram daquele lugar, que dormem nos cantos e ainda carregam a mochila rasgada com que começaram a viagem. Invejo quem consegue sair, como se eles conseguissem muito mais, como ter esperança (e eu não consigo). Deixar tudo pra trás. Sou um escravo de muitos senhores(eu mesmo), mas o maior deles talvez seja a cidade, as luzes que vemos quando estamos chegando, e este lugar.
Quantas histórias passam do meu lado enquanto estou aqui. Alguma delas poderia dar um ótimo melhor amigo. Ou um amor da minha vida. Ou cairia em lágrimas com um abraço(sei que eu cairia). Outras procuram o bar mais próximo, o copo mais próximo, são ótimas companhias de uma noite. Quem sabe aquele ali, com mais malas do que consegue carregar, seja o sócio perfeito para a profissão que sempre quis. Fico pensando em tudo até o vinho acabar, e isso sempre me traz de novo ao chão. Mudo de meias e volto pra casa, tantas histórias acabam cansando mais do que uma viagem. Quem sabe da próxima.
Amei o texto. O último parágrafo então, é perfeito.Esse trecho resume o que já senti milhões de vezes:\”Mudo de meias e volto pra casa, tantas histórias acabam cansando mais do que uma viagem. Quem sabe da próxima.\”Parabéns pelo blog.