Assim como você ele só ia a praia no escuro. E nessas caminhadas na areia azulada, se deparou com um homem olhando para o mar, como se esperasse alguma coisa. Ele estava de terno e gravata e soltou um sorriso simpático ao ver que não estava mais sozinho, mas sem demonstrar surpresa.
– Você – disse – você é o escolhido. O escolhido para entregar uma mensagem. Uma mensagem que trará esperança para quem a ouvir, e um aviso para quem não ouvir.
Acordou no meio da tarde, suado, depois de ter o mesmo sonho de novo e de novo. E assim como você, quando menos esperava esqueceu do sonho. E da mensagem.
O escolhido esqueceu da mensagem que deveria transmitir. E a partir daquele dia voltava a praia todas as noites, esperando que o homem aparecesse e então podia se desculpar, afinal não escolheu ter a memória ruim. E se fosse um teste? Uma provação? E se nada daquilo tivesse acontecido?
Assim como você, ele demorou a procurar ajuda. Com medo. Medo de o fazerem acreditar que tinha perdido a sanidade. Medo de não ter quem acreditasse. Contou toda a história, mas receitaram comprimidos. Os sonhos voltavam, e ele ainda não conseguia lembrar quando acordava.
Quantas pessoas dependiam dele naquele momento? Esperando alguém para entregar a mensagem, esperando para ouvirem?
Quantas pessoas não sabiam de nada, mas sofreriam por não terem sido avisadas?
A ironia fazia ele rir. Por sempre se achar deslocado, intruso em um mundo cinza com trilha sonora repetitiva. Então quando finalmente lhe disseram que ele era diferente, falhou.
E assim como você, ele desabou. Perdeu a casa, a família. Não conseguia mais lembrar dos antigos objetivos, esqueceu quem era e pra onde queria ir. Perambulava pela mesma praia, em busca de algo, que já não fazia idéia do que era.
Anos depois encontrou o mesmo homem, olhando o mar. Este deu o mesmo sorriso quando viu que não estava sozinho e, assim como você, desapareceu.