13 Metros

13 Metros

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— Quero ir lá no alto, de onde se possa ver tudo.
— Posso beijá-la no alto?
— Duas vezes, se for depressa.

Ainda posso sentir o perfume. Ainda posso ouvir o metal retorcendo. Lembro da maneira que ela coçava o nariz. Lembro do estrondo que os vidros fizeram. Lembro das gargalhadas no alta da roda gigante. Lembro do último grito, mas não sei se foi real. As pessoas dizem-me para seguir em frente, não quero seguir em frente, quero ficar velho e triste, mas ter um amor só. Quero desperdiçar tudo o que poderia ser, e viver em lembranças e momentos curtos. Visitar lugares especiais que vão ficando velhos, descuidados. Fazer sempre os mesmos rituais, como se houvesse uma alma em algum lugar que pudesse ver o que estou fazendo e decidisse me esperar. Quero ter um altar com objetos sem valor. E dar mais valor a um único objeto do que dou a vida. Quero que me falte coragem para o suicídio, porque de alguma forma sinto que ter sobrevivido significa tentar honrá-la. Mas não impede de sempre torcer por um ataque cardíaco. Ônibus desgovernado. Bala perdida. Quero que me deixem assim. Lunático, sozinho. Mas confortável, deitado em almofadas que só a tristeza cria. Metade de mim ainda quer ficar bem velho, com um sorriso simpático. Metade de mim quer voltar a andar de roda-gigante, e torcer para que o operador esteja bêbado de novo e perca o controle.

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