A coisa mais difícil da minha curta vida adulta é encontrar estímulo pra fazer qualquer coisa que não esteja na minha rotina de metal. Naquele rolo pontiagudo da caixa de música que, apesar de produzir um som bonito, não passa de algo monótono e automático. Meu amor próprio caiu da cesta do mercado, perto dos abacates. Tirar forças pra um objetivo novo é tão raro quanto perfurar um poço de petróleo. E não basta apenas achar o poço, você tem que trazer as maquinas, contratar os operários.
O tempo todo preciso dum objetivo, por mais besta que pareça. E um que não almeje me satisfazer. Preciso comprar beterrabas para a vizinha. Doce de abóbora para a senhora da esquina. Pontualidade pro meu chefe. Ração pro meu gato. Saber o que cozinhar ao telefonar pra minha mãe.
O que queria, mesmo, era um filho. Não sei como ou de onde, mas queria viver em função de alguém. Queria ser essencial, mesmo que da pior maneira. Me obrigar a levantar a comer três refeições. A parar de fumar. A reaprender matemática básica e história do país. Queria me preocupar ao esperar alguém com o café passado. Queria não ter de me forçar a viver por mim.