Irony

Irony

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Ele sorria em músicas tristes, simpatizava com finais deprimentes, sempre tomou remédios sem acreditar neles e tinha todos os motivos do mundo para morar sozinho.

Seu último dia foi normal, com bom dias e como você está.
Passou pela máquina de cópias e deu um sorrisinho social.
Emprestou o grampeador e perguntou do tempo.
Olhou para trás e acenou com a cabeça.

Só que agora ele mordia o canto da boca depois do sorriso.
Fechava o punho enquanto perguntava do tempo.
Respirava pesado e acenava com a cabeça.

A frustração é uma arma poderosa, arremessada pelas costas quando estamos pegando impulso para o último pulo. Vai acertar um tendão, estragar os planos e deixar sequelas.

Queria compaixão, queria amigos, queria que parassem de recomendar terapia e pílulas com cores sem graça, queria que ligassem pro telefone escrito na porta do banheiro público abaixo do “Me Ajude”, morar na áfrica e pensar que um prato de comida era a salvação, aprender a fazer nó de gravata sozinho, como diabos inventaram isso, alguém fez sozinho, se alguém fez ele também podia. Não.

Se encontrasse uma lâmpada mágica ia pedir pra trocar de lugar com o gênio. Ia pedir pra poder dizer não as pessoas.

Não, você não pode ser um advogado.
Não, você não pode ouvir música com instrumentos de sopro.
Não, você não pode comer salada nesses pratinhos de plástico bio-degradável.
Não, você não pode falar sobre meu cabelo.
Não, você não pode dedicar a vida inteira a uma droga de um esporte que ninguém faz.
Não, você não pode respirar.
Nem ser um astronauta.
Nem bombeiro.
Nem aprender a dançar.

Todos seus carimbos seriam de Negado. E Rejeitado.

Quando se aposentasse, iria esperar o tédio, ai começava a trabalhar de novo, dessa vez criaria a primeira agência de sonhos.
Ele faria os sonhos.

Seu sonho a partir de hoje vai ser…
…se tornar um chef especializado em mariscos.
…jogador de futebol na polônia.
…encontrar uma mulher que goste de nudismo.
…bater o record de quem engole mais cacos de vidro.
…subir em um prédio de cem andares e pular.
…ficar cego.
…passar a soluçar pelo resto da vida.
…nunca estar satisfeito.

Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.

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