E a missão daquele sujeito ali embaixo é alimentar o fogo. Só isso, sem complicações ou reviravoltas. Alimentar o fogo da lareira, dentro da cabana. O dia se resume a cortar toras em pedaços menores para servirem de lenha, carregar para a caixa lá dentro e sempre manter as chamas.
Tudo se resumia a não questionar o porque daquilo. Pra que manter o fogo acesso por tanto tempo? E quando acabasse a lenha? E o que mais tinha na floresta além da cabana?
Só alimentar o fogo.
Em dias frios ele nunca se perguntava para que servia aquilo tudo. Era aconchegante sentar na cadeira e olhar o fogo lambendo a madeira, que crepitava como se pedisse socorro e vomitava fagulhas pra ca e pra lá.
Em dias quentes tudo que ele queria era deixar aquela droga toda apagar e ir embora, não ter de entrar na sauna e deixar tudo mais quente ainda, como se fosse idiota.
Mas não, ele tinha que alimentar o fogo.
Voltamos anos depois, e lá embaixo está o mesmo sujeito, carregando lenha. Eram os últimos pedaços.
Se sentindo desesperado ele procurou todo tipo de coisa para jogar no jogo. As cadeiras, a mesa, os armários e o suporte para casacos.
Seu baú, os pés da cama, aquele relógio velho que só marcava três e trinta e seis e todos os ursinhos de pelúcia que alguém deixou ali, queimavam e fediam coisa velha.
Quando isso tudo acabou, e o fogo estava diminuindo, ele pegou o machado e derrubou a porta, as molduras das janelas, a parede que dividia a cozinha do resto da cabana e um pedaço do teto.
Dias depois a casa não tinha mais teto, nem paredes, só um chão e uma lareira.
No fim ele gritou, chamou por alguém, quem quer que fosse o responsável por aquilo tudo, ele tinha aguentado o máximo, e gritou e esperou ao lado da lareira, jogando suas roupas e sapatos no fogo.
Esperando apagar.
quantas vezes deixamos nossos sonhos se consumirem junto com o fogo?belo!