como conquistamos gatas de olhos verdes?
não é pedindo ajuda, eu sei.
mas como?
tão orgulhosas e ariscas, fugindo na ponta dos pés justo quando percebem que inspiramos mais ar que o normal, sutilmente, a quem queríamos enganar, tentando roubar mais daquele perfume que nos era permitido.
elas são as verdadeiras ladras!
ladras de suspiros e momentos de silêncio, sempre se esgueirando por onde não devem com patas silenciosas e um sorrisinho em momentos oportunos.
não se pode vencer na guerra de olhares, mas porque tentar, afinal?
você quer perder tanto quanto eu, na espiral de vidro, cair num abismo de névoa tão espessa que você chega mesmo a ter esperança que vai girar no ar e cair no chão.
não.
o buraco acaba antes de você girar, e você quebra as costelas, logo antes de ouvir os passinhos leves e jurar que elas ronronam inconscientemente ao sorrir a vitória.
sim!
não comemoram, sorriem a vitória, como quem esperasse há muito tempo por ela, era óbvia, mas nem por isso menos prazerosa, sabem lamber as patas e virar o rosto logo depois, prazer, que prazer?
como conquistamos gatas de olhos verdes?
tem a frase ‘quero mais’ tatuada onde melhor lhes convir.
não se pode fugir uma vez que elas arranham.
nunca vão correr atrás, mas te deixarão sangrando até que precise implorar por ajuda, para depois chegarem por trás, silenciosas, e jogar isso na sua cara, falando bem baixinho perto do ouvido, e segundos depois sumirem em um, dois ou três saltos ágeis.
sabem na medida certa usar calças justas e brilhantes, fazendo o pêlo mais macio parecer supérfluo.
conseguem enganar tanto pássaros velozes e bonitos, quanto ratos gorduchos, mas estes elas nunca contam que sujaram os bigodes num jantar cheio de gula, não deixam pontas soltas em nada, só comem do melhor, e não merecem menos que isso.
quando menos esperar vai acordar com a sensação de que alguém esteve aqui, alguém que é orgulhosa demais para conseguir ‘querer se deixar perceber’, e vai gostar disso, e vai procurá-la, caindo na maior charada da sua vida, você está num labirinto, e só sai de lá quando precisarem que você saia.
ninguém encurrala elas num canto, preferem morrer a deixarem ver que choram.
preferem fingir que choram, para nos enganar e abaixamos as armas, e depois apagamos em segundos, acordando com o arrependimento da derrota, e mesmo assim gostando disso, gostando de ser vencido por seres tão interessantes!
como conquistamos gatas de olhos verdes?
não vai decifrá-las nunca, mas ainda assim vão te perguntar, torturar dizendo que existe sim uma maneira de deixarem acariciar, e quem sabe, aos mais sortudos, sentarem no colo.
vão fazer você contar os maiores segredos, na espera vã de que estão amolecendo.
vão contar sim alguns segredos próprios, mas sem fraquejar em momento algum, e logo depois são frias e independentes como eram ontem.
andam sobre os muros mais estreitos, pulando de telhado em telhado noite adentro, nos seus mundos invisíveis, sempre parecendo fugir, ao mesmo tempo que caçam, ao mesmo tempo que brincam.
vão te dar um beijo e cravar as unhas no seu peito, é um jogo, não pode ganhar nada sem pagar um preço, e você vicia no gato e rato sem fim, sempre um, dois ou três passos atrás delas.
quem se importa?
como conquistamos gatas de olhos verdes?