Era uma vez um garoto que roubava cenários de livros. Roubava, assim, simples como falar. Rasgava eles e colava com fita adesiva. Seu quarto era diferente a cada dia. Florestas, oceanos, parques no outono, noites de lua cheia com aquelas nuvens finas em cima e embaixo.
Recortava mariposas e sapos gordos, para colar na janela, que de um momento pro outro virou um pântano com vagalumes. Um dia era a távola redonda, no outro um deserto, sem ninguém. Ele cresceu como todos os garotos, tristes e com inúmeros transtornos por terem visto os pais serem assassinados.
Acabou como operador de projeção, no colégio da cidade, onde viu seus amiguinhos se formando enquanto ele varria o chão. Ele podia projetar tudo, até mesmos sonhos grandes e gordos, se a parede permitisse.
O problema de tudo, começou, e acabou, quando ele deixou de ler contos, para se interessar por ficção científica. Ora vejam bem, poderia ser pior, poderia ser rituais satânicos ou o pior de tudo, romance.
Digo começou, e acabou, porque não durou muito, mesmo. Ele projetou um buraco negro, no teto da pequena sala de projeções. Era lindo, mesmo, um vórtex fazendo toda a realidade girar, a matéria girava, até o projetor ser sugado.
A escola fechou, porque ninguém conseguia explicar o buraco enorme em toda a ala oeste do prédio, e o sumiço do Operador de Projeções.
Uma menininha, com nome de peixe, encontrou um livrinho velho e remendado com fita adesiva. Tinham gravuras de cenários, de todo tipo.
imagino que o destino da menina não tenha sido muito melhor que o do menino ou então ela criou um céu diferente e se prendeu lá pra sempre.