A vida dele era tão dissonante quanto uma loja de brinquedos, com todas as criancinhas correndo com olhos brilhantes, ao som de rock pesado, sujo, metálico.
Como anjos descendo dos céus, com auras luminosas, e estendendo vermes nas mãos, com um sorriso, feliz, bonito.
Sempre teve admiração por espelhos, mas porque? Porque admiramos nosso oposto, reflexo, contrário?
Não entendia como tinha coragem de andar em meio a pessoas tão estranhas e assustadoras, e medo de ver monstros solitários no escuro, em cantos, chorando.
Seus sonhos infantis de ser trancado em um supermercado, e comer doces até sua barriga explodir, ou de ganhar o melhor boneco de ação da cidade, aquele que teria raios laser e uma mochila de propulsão, agora tinham virado rabiscos em papéis amassados, que antes, eram tentativas frustradas de se tornarem barcos, aviões, sapos.
Passou a procurar alguém que fosse inocente, mas que soubesse muitas coisas fantásticas, como o porque das mariposas perderem suas cores de borboleta. Que ensinasse a subir em árvores e rastejar por buracos enormes, de animais desconhecidos, mágicos, invisíveis.
Deixou de se impressionar com o quanto as pessoas eram decepcionantes e previsíveis, e depois desse dia esqueceu o idioma delas, só ouvia um blablabla contínuo, que era engraçado de ouvir, assoprar, imitar.
Queria ficar com aquela sensação quando seus ouvidos abafam, como se estivesse embaixo d’água, eternamente, a salvo, seguro.
Ausência, falta, esperança.
\”Casas representam pessoas, e o farol é um símbolo comum de morte. A árvore é o próprio ciclo da vida. \”eu só sabia sobre a árvore,não fazia a menor idéia sobre o farol .-.