1, 2, 3

1, 2, 3

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Nada, nada, nada.

Imagine duas lesmas sentadas em uma mesa, uma com uma blusa cinza dessas com capuz atrás, a outra com 3 camisas por cima uma da outra, sem motivo algum. Imagine que tudo que elas falam ecoa, ecoa, ecoa.

Aquela gosma grudenta suja o chão e deixa rastros brilhantes por tudo que elas tocam. É sujo, nojento, talvez transmita doenças.

Elas falam “É agora ou nunca, ou nunca, nunca”.

Tem um monte de sal em cima da mesa entre as lesmas, e elas ficam encarando aquele monte de sal como se suas vidas dependessem disso. E dependem.

Elas enfiam a cabeça no monte de sal, e gritam de dor, sentem seus corpos de lesma expelirem toda a água, arder, praticamente se desintegrar.

Mas os gritos delas não ecoam.

Tem vontade de se jogar na água, mas não sabem se isso vai ajudar ou não.

Arrependimento, a vida era tão bonita, jogada fora por um impulso besta.

A dor é insuportável, elas querem abraçar uma a outra mas tem medo de desmanchar.

Ah, o alívio, quando seu corpo amortece, apaga, desliga, estraga, deixa de enviar impulsos inúteis.

Arrependimento de ter achado que estavam arrependidas, não estavam não, era medo, medo, medo.

As roupas agora sujas, grudentas. E elas só pensam em quem vai limpar essa bagunça enorme, e lembram que esqueceram de deixar um bilhete, pedindo desculpas, ou dando adeus, ou explicando tudo isso.

Ah, o arrependimento.

Nada, nada, nada.

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