Bom, este talvez seja meu último conto, então vou contar um que é especial pra mim. Começa com um quadro que vi. Era de um menino deitado na cama esperando para ouvir uma história, daquele jeito que meninos deitam na cama esperando alguém contar uma história, com seu porquinho de pelúcia cuidadosamente colocado ao lado, com a cabeça de fora das cobertas, também esperando pela história.
Me deixem descrever o quadro antes, para vocês imaginarem melhor. A maior parte de tudo era em tons de cinza. As únicas cores vinham do abajur colocado na cômoda atrás da cama, um pouco mais alto. As cores iam até onde ia a luz, destacando o menino e o porquinho.
Quem contava a história para eles, não era seu pai, nem sua mãe ou tia-avó, mas um ser estranho, com tentáculos ao invés de pés, cabeça de gente com cabelo escorrido, e olhos orientais. Era meio horripilante, e todo de preto com uma cara sem expressão. Em volta deles tinham todos os tipos de monstros observando. Bichos-Papões, alienígenas, lixeiros malvados, fantasmas, mendigos com sacos enormes manchados de sangue, um crocodilo gordo com uma cicatriz no olho, uma menina inteira de branco com um copo d’água na mão, e alguns assassinos em série com facas ou machados.
O menino sorria, ávido pela história que o ser estranho estava contando, provavelmente tão boa quanto essa história.
Me desculpem mas não vou aguentar. Esse é meu último conto sim, as últimas baterias vão acabar a qualquer momento. Tenho que falar sobre mim mesmo, contar a minha história, senão vou acabar uma alma penada que não fez tudo que queria. É egoísmo sim, o final do conto era o mais incrível que já ouvi, mas me perdoem, não posso evitar.
O mundo acabou. Ou chegou no mais perto que poderia chegar de um fim. Quase todo mundo morreu. Quem não morreu vai morrer cedo ou tarde. Não podemos sair, eles estão por todo lado, os últimos sobreviventes vão durar até seu estoque de comida aguentar, ou suas balas acabarem.
Resolvi fazer dessa estação de rádio minha última casa, éramos 3 quando chegamos, só eu sobrevivi… ainda sinto o cheiro de perfume da minha irmã, não consegui recuperar seu corpo lá fora.
Todo dia contava histórias pelo rádio. Qualquer história, tristes, felizes, com esperança, suicidas. Tenho quase certeza que esta é a única rádio que não transmite mensagens religiosas do tipo “nosso senhor castigou o mundo dos pecadores”.
Afinal, sobram três tipos de pessoas num apocalipse, os que tentam ajudar todos e transmitem mensagens de “venham e vamos nos ajudar e sobreviver”. Os religiosos que dizem ser os escolhidos para remontar o novo mundo. E pessoas como eu, sem propósito algum que só gostam de contar histórias.
Quando as baterias acabarem vou comer o último pacote de amendoin que sobrou, e ver se acho algo para escrever. Se não estou enganado hoje é quinta-feira, e ainda tenho vont ……………………………………………………………………………………………………………………………………………………..
eu não queria ter que parar nunca,mas é bom deixar tudo nas entrelinhas.gostei,como é de praxe *-*