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Sentado naquelas mesas de praça onde deveriam jogar xadrez, ou damas (mas na verdade jogam dominó, ou cartas), é possível encontrar sujeitos interessantes. A maioria vai ser senhores com aquelas boinas que só podemos usar quando trocamos os nomes dos próprios filhos e chocolate perde o gosto.

Vez ou outra vamos encontrar alguém que não tenha muita certeza se está no um, no zero, ou entre os dois, o que é mais complicado ainda. O que existe entre o zero e o um, ele pergunta. Isso me fez lembrar de outro senhor, com aquele semblante triste mas confortante ao mesmo tempo, que tinha perdido sua mulher fazia pouco tempo. Contou que ela, já num estado avançado de alguma doença qualquer, ficava horas olhando para o vão entre a geladeira e a parede. Fico pensando que aquele vão, para ela, era muito maior e mais interessante que qualquer coisa que eu vá encontrar.

Vamos nos deparar com pessoas que dizem ter conhecido o neto de Napoleão, e por isso devem ser extremamente nacionalistas e sempre achar que a frança é o melhor país do mundo. Desejo que ele nunca vá realmente a frança, que sempre sonhe e tenha esperança que ela é o melhor país do mundo. E fico animado pensando que talvez, com muita sorte, conheça o tataraneto de algum grande general, e por esse simples motivo deva idealizar o país que ele lutou.

E uma vez, vamos sentar do lado da mulher com os olhos mais bonitos que já vimos, e ela vai contar sobre novembro de 1990, e como esse ano mudou a vida dela, e de todos que crêem. Vamos falar que cremos também, afinal não custa nada, não é.

Vamos decidir nunca mais sentar nessas mesinhas e a última pessoa que encontramos é um rapaz de boina, essas de velhos, que desistiu do chocolate, e está com biscoitos salgados na mão, dizendo que isto, amigo, é tudo que ele precisa, e apontando para os biscoitos.

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