Fígado

 “Um relacionamento pode ser a forma mais intensa de se sentir sozinho.”

Disse um autor por aí. Eu não disse nada. Mas não mintam pro seu parceiro, ou pra si mesmos, dependendo da ordem que isso importa pra você ou sua autoestima. Se eu escrever seu parceiro antes de si mesmo vocês vão achar que eu tenho ou não autoestima? Isso é relevante? Você vai pensar, por alguns segundos, que se identifica mais comigo caso a ordem importe? Que bosta hein.

Amanhã é segunda, e de alguma forma meu subconsciente diz que pelo menos é melhor que ser terça. Como se o primeiro dia da semana mais horrível da sua vida pudesse ser pior que o segundo. Talvez possa, somente um filho dos nossos chefes com o próprio Freud poderia nos explicar. Mas chega disso, vamos falar de algo sério, como a possibilidade bizarra de uma águia levantar um pequeno cervo, ou um bode montanhês. Elas conseguem, e fazem isso o tempo todo. Mas não damos tanta importância para águias como damos para caminhões carregando porquinhos, então não sabíamos disso. Quanto, em termos de moeda nacional, você aceitaria para tentar convencer alguém que nunca viu na vida, amanhã, desse fato? No ônibus ou qualquer merda popular que o valha. Falar com a maior convicção do mundo que existem espécies de pássaros que carregam pequenos mamíferos inteiros por aí, e quem sabe, dependendo do país nórdico em questão, carreguem até mesmo bebês. As pessoas valorizam muito o senso de ridículo. Nunca puxariam esse assunto, assim, do nada. Alguns puxam querendo se provar para amigos, com o objetivo de parecerem bacaninhas por serem desprendidos, mas não são. Só querem o sentimento de superioridade que por algum motivo é atribuído a quem consegue se comunicar de forma aparentemente desapegada.

Meu objetivo é decorar esse texto e falar para alguém que nunca vi na vida, palavra por palavra. Se a pessoa chegar até aqui, e der um sorrisinho maroto de “cheguei até aqui, e agora seu babaca?” nada vai acontecer, vamos chegar 12 minutos atrasados nos respectivos trabalhos, dar bom dia pra moça da recepção, que só fingimos amizade justamente para não nos fodermos no banco de horas ou sei lá como chamam isso, você entendeu. E está sozinho. Intensamente sozinho.