I wish i was

I wish i was

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Naquela vila tinha um coelho igual todos os outros. Mentira, ele não era igual, preferia sentar embaixo da ponte e fazer rabiscos na parede a brincar com outros animais.
Talvez isso não o torne tão diferente, pois os outros animais também não gostavam muito dele.

Olha lá o bobalhão orelhudo, eles diziam e apontavam rindo.
Arremessavam pedras e cascas de nozes que caiam perto dos pés sujos de lama do coelho.

Um dia ele cansou. Queria ser como todos e não gostar da ponte, ter medo dela.
Cansou das pedras e cascas de nozes.

Pulou no poço da vila, e ninguém ouviu quando ele atingiu a água no fundo.

Ninguém ouviu ele chorar por 2 dias, nem mesmo quem ia pegar água e conversava sobre como o inverno estava próximo.

O coelho morreu, sozinho.

Alguns dias depois o inverno chegou, só chegou, um dia estava sol, no outro nevou.

E ninguém sentiu falta do coelho, ninguém perguntou por ele.

Lá embaixo no poço o cadáver do coelho começou a apodrecer, larvas saiam pela pele e caiam na água, moscas pousavam e deixavam ovos, seu corpo inchado começava a se desmanchar.

Ninguém percebeu que a água estava com um gosto estranho.

No fim do inverno a vila inteira tinha morrido.

Em algum lugar no fundo do poço, o que poderia sorrir dos restos do coelho, sorria.

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