Raiva

Raiva

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Era uma vez uma garota que só existia na chuva.
Ela surgia naqueles milésimos que todas as pessoas do mundo (que não estivessem dormindo ou algo que o valha) piscassem juntas. Isso acontece mais do que você imagina.
Apesar dessas coisas ela era uma garota normal, até o ponto onde meninas pequenas com botas e guarda-chuva se permitem ser.
Viver somente na chuva tem seus poréns, como dar valor demasiado a insetos e pequenos animais. Menos sapos, porque sapos também só existem na chuva.
Ela tinha todos os motivos do mundo para ser feliz, só não sabia sorrir, o que algumas vezes se torna um problema, nem muito grande, nem muito pequeno, como cadarços desamarrados, você nunca sabe se vale mesmo a pena amarrar eles.
Essa garota colecionava insetos, ou ao menos tentava, porque quando, não mais que de repente, a chuva parava e ela sumia fazendo com que todos dessem um sorrisinho sem motivo, você sabe de qual estou falando, quando esboça alegria sem saber ou se importar como.
A garota gostava de se imaginar um inseto, desbravando espaços pequenos, habitados por gigantes, onde se abrigaria dentro de sapatos velhos e latas de sopa.
Um dia ela viu um besouro voando em um dente-de-leão, e pensou em todas as aventuras pelas quais o pequeno besouro passaria sem se dar conta.
Estava decidido, ela acordaria na próxima chuva como um inseto, não importava qual, nem que cor teria. E voaria em um dente-de-leão, conversando com o vento.
Quando percebeu que a chuva estava diminuindo amarrou bem as botas, e guardou o guarda chuva.

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