I’m here, but not much longer

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– Você não pode ser meu amigo.
– Porque? Me convença e te darei o mundo.
– Porque eu vou me decepcionar com você. Me decepciono com todos. Sempre espero algo além do que tem pra oferecer, algo que não seja a mesma futilidade infantil. Algo que me faça pensar, seja novo e interessante, que ao mesmo tempo faça rir e chorar, original, mas com várias referências para conversarmos por muito tempo. Quero um amigo que me surpreenda, que seja aleatório, que um dia durma de azul e acorde verde, que vai correr sem motivo, gritar no meio dos outros, não ter medo de represálias ou recriminações. Quero alguém que saiba ser normal, mas que nunca seja. Que proponha coisas imbecis como pescar, mesmo eu odiando isso, e me convença a ir. Que fique nervoso quando eu estou triste, pois estar triste me faz ser mais normal. Quero um amigo que saiba as horas pelo sol, e que conheça pelo menos 2 lugares secretos, um deles na floresta, onde vamos ver as estrelas enquanto morremos de frio porque ninguém sabe fazer uma fogueira que realmente funcione. Alguém que me entenda, e que eu entenda ele, para concordarmos em coisas filosóficas, mas discordarmos em coisas banais. Um amigo que saiba todos meus segredos, e esteja disposto a sacrificar tudo por mim, mesmo eu sabendo que nunca vai ter que sacrificar nada. Quero um amigo assim, e você não é assim, nem ninguém é. Vou me entediar com você logo, e vou ter vontade de simplesmente sair do seu lado, mas vai me dar pena e remorso. Ah, a pena e o remorso, com certeza os sentimentos mais inúteis que já inventaram. Está vendo, só de pensar nisso já fico com raiva. Não podemos ser amigos, porque vou acabar gostando de você, mas não vai ser o que esperava, nunca é.
– E se esse parque a partir de hoje fosse nosso forte? Se eu te dissesse que lá fora vão nos comer vivos, em pequenas mordidas. Vão até mesmo pedir para arrancarmos pedaços um do outro, só para ter mais um tempinho de vida. E nós vamos fazer, pense o que quiser, tenha o orgulho que tiver, mas vamos fazer, eles são mais fortes. Aqui estamos seguros, sendo amigos ou não, é nossa concha, nosso útero, e seu desejo de encontrar alguém fora daqui é uma rachadura, um corte no cordão umbilical. Estamos sozinhos e com frio, mas estamos, só estamos, e isso que importa. Posso não ser interessante, nem dormir azul e acordar verde, mas podemos atuar, inventar peças e fazer de conta que é Shakespeare ou algo que o valha, podemos enfeitar nossa fortaleza para que quem veja de fora não ache que somos estranhos. Aguente o tempo que for, me considere o que quiser considerar, mas não saia, por favor não saia, não vou aguentar de culpa e solidão. Ah, a culpa e a solidão, com certeza os sentimentos mais inúteis que já inventaram.
– Suas palavras envenenam, sabia disso? Ah, como estou tentada a interpretar Shakespeare, mesmo sendo uma peça sem sentido com 2 atos. Como queria me aquecer no nosso forte. Mas pare de dizer essas coisas, sei que com o tempo vou me cansar e fugir no meio da noite, e vou levar o fogo, você pode morrer de frio e nem se dar conta. Não vou senti pena nem remorso por isso, porque morrer sem se dar conta é nosso maior sonho, e temos vergonha e receio de admitir disso. Ah, a vergonha e o receio, com certeza os sentimentos mais inúteis que já inventaram.
– Então faça isso, viva comigo pelo tempo que aguentar, e quando se decepcionar fuja, fuja e leve o fogo, e me deixe morrer sem se dar conta disso. Pois quando acordasse seria eu quem iria me decepcionar com você, e comigo mesmo por propor tudo isso. Mas agora fique, não pense na fuga, pense em Shakespeare e nas canções, e talvez amanhã eu acorde verde e não me dê conta. Então podemos ser amigos.

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0 thoughts on “I’m here, but not much longer”

  1. Shakespeare simplesmente já me deixa comovida.Lugares secretos mais ainda…e amigos impossíveis então,quase me põem em lágrimas.E quem sabe algum dia eu possa tirar todos eles dos báus mágicos da minha cabeça *-*

  2. Lugares secretos são o que há! Mas a gente podia chamar de \”base secreta\” que é mais legal. E a gente podia interpretar Rozencrantz e Guildenstern. Por que? Não são os nomes mais maneiros que vc já ouviu em toda a galáxia? Aposto que vc já pensou \”poxa vida, pq eu me chamo Bruno e não Guildenstern?\”. Ai a gente interpreta na base secreta, Eu como Rozencrantz e vc como Guildenstern, mas isso é negociável, a gente pode trocar se vc quiser.

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