Ai eu resolvi pintar um quadro, da forma mais clássica, com uma tela e tinta a óleo. A diferença é que não consigo ficar de pé por muito tempo, uma tia minha dizia ser problema de circulação ou algo parecido, nunca dei importância. Comecei a pintar no chão, mas nem tinha idéia do que queria fazer. Alguns traços depois e percebi fosse lá o que fosse, seria no pôr do sol, com tons avermelhados e laranjados. Apareceu um anjo do meu lado, de terno e com um palito na boca, e perguntou se eu não me sentia triste com aquilo, de ter a visão limitada, os humanos não conseguiam fazer todas as cores, nem ver elas direito, então a arte era limitada, nunca teria a realidade necessária pra sair do papel. Disse que não me importava, nunca comecei pra fazê-la sair do papel, só queria pintar. Ai ele deu uma risada e me chamou de mentiroso, e sentou do meu lado, fez um gesto para que continuasse pintar. Depois de escolher tons verdes para fazer o que seria a grama, perguntei o nome do anjo, ele pensou um pouco e disse que era Luxúria, olhando para o teto e mastigando o palito na boca. Ele olhou pra mim e para a tela, com cara de impaciente perguntou se ia demorar muito, que ele tinha mais coisas a fazer. Falei que ia sim, e que ele podia ir embora se quisesse. Passei um bom tempo misturando amarelos e vermelhos para fazer um marrom que me contentasse, e percebi que o anjo tinha sumido. Ouvi sua voz distante, perguntando se eu era feliz. Falei que não, mas que não costumava pensar muito sobre isso.

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