Elevadores obrigam duas pessoas a ficarem juntas por um tempo. É como se elas se encontrassem numa esquina e andassem lado a lado até o último lugar que iriam em comum.
Essas pessoas nunca mais vão andar juntas, o pequeno pedaço de destino que unia elas morreu subitamente, levou um tiro, foi assassinado.
Elas vão seguir suas vidas normalmente, encontrando outras pessoas em outros elevadores. Uma delas vai receber ordens de investigar atitudes suspeitas de uma suposta quadrilha de tráfico. Ele vai investigar a si mesmo, descobrir que seus comparsas traíam ele fazia anos e sempre ficaram com mais que 25%. Vai começar a beber e ter problemas de personalidade por viver duas vidas. Vai achar ter visto um unicórnio no parque da 7ª esquina com a 25ª. Encontrar um diário sujo no chão, ler as duas primeiras linhas da página aleatória que abriu “Descobri o futuro, vamos todos morrer. Ontem eu e John fomos abduzidos, eles vão voltar”.
A outra pessoa vai chegar em casa e arrumar o sofá numa posição que pegue luz indiretamente. Vai pintar uma mulher nua com seu filho. Não quis nem perguntar nada sobre isso, ela pagaria bem, isso que importava. Ele odiava pintar, começou a odiar depois que descobriu que não conseguia mais pintar as coisas sem deixar sua marca, isso era deprimente, ele matou o abstrato. No meio da pintura ele vê, aquela pincelada só sua, era como se jogassem merda na tela, como se ateassem fogo.
Gritou e levantou, pegou algo na gaveta, correu, colocou um lençol por sobre o filho da mulher, que esta altura estava assustada demais para fazer qualquer coisa. Deu um tiro na boca, as gotas que se formaram na parede atrás eram lindas, se ligassem os pontos daria um unicórnio.