Quando aquele tumor no cérebro, do qual sempre teve medo, corroer os últimos neurônios vitais, ele vai acordar, tirar a coberta da cara, e perceber que estava o tempo todo escondido num casulo na cama. No limiar da criação fomos divididos em dois grupos, os que escolheram enfrentar o que o criador tiraria do chapéu, e os que se esconderam embaixo das cobertas. Como pode perceber fomos, em grande maioria, medrosos. Mentira, não foram nada. Dois grupos seriam muito pouco. O criador tinha mais o que fazer. Dois era um número ineficiente. Existiam, no mínimo, dois mil e sessenta e quatro bilhões de grupos. Minimalismo é algo tão religioso, não? Somos tantos, nada especiais, todos acidentes.
É curiosa a sensação de idolatria. Como se os ídolos não existissem fora do seu palco. Sem vidas normais, sem dores de barriga, chutes em cantos de mesa, contas pra pagar. Só existem no intervalo que corresponde pela entrada e saída de uma apresentação e outra. Não quero conhecê-los, saber que nunca comeram aspargos por birra, que tem furúnculo na nádega direita. Quero que toquem o repertório correto, atuem com as emoções corretas, inovem na medida certa, apoiem as mesmas causas que apoio. Que sejam perfeitos, pois precisam ser, para meu objetivo ser válido. É o auge, o cúmulo, a loteria, a cenoura na frente do cavalo. Não deve ser alcançada.