Ninguém lembra de mim no outro dia. O que é ótimo, posso ser quem bem entender, sem medo de consequências futuras, sem medo do chute que dei na primeira peça do dominó derrubar outras peças. Mas será que sou tão irrelevante assim? Será que não consigo nem ao menos incomodar alguém?
Passo da indiferença raivosa-orgulhosa pra depressão insegura em segundos. Perdi a ponta do fio que me guiava e impedia de confundir o que é doença, loucura, problema e o que é escolha, consciência, sanidade. Meu labirinto não tem paredes, mas não consigo atravessar as linhas e pegar o troféu, prefiro não conseguir. Escolho não ter sucesso, minha vitória é errar. Não. Minha vitória é não querer vencer. Não é tudo a mesma coisa, cale-se.
Lembro no xadrez quando percebia que iria perder então dizia em voz alta jogadas aleatórias e falsas previsões pro oponente achar que eu já tinha o jogo em mãos, então derrubava meu rei, com um suspiro de piedade. Eu perdi, não perdi? Então não foi trapaça, foi? É o rei caído quem dita a derrota ou são os ares dos jogadores após a batalha? Me diga, por favor.
Onde estão as regras que dizem que devemos sorrir com realizações e chorar com falhas? Andando na rua um dia vi uma mulher gritando “Alerta, fogo, fogo” e sendo carregada pra um beco escuro. Vi em algum filme que em aulas de defesa pesoal ensinam elas a não gritar por socorro, porque ninguém atende um pedido de socorro. Ao invés disso é melhor dizer que um acindente aconteceu, ou um incêndio, isso atrai as pessoas. Não me senti nem um pouco atraído, agora devo me sentir culpado? Segui as regras do bom senso, não queria ver fogo nenhum. Vou ou não no velório dela?

Absinthe
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