As pessoas não sabem sentir. Cabularam as aulas onde ensinavam isso na segunda série. O sexo é superestimado, uma simples guerra de egos envolvendo uma liberação de hormônios ou outra. Consigo sentir estímulos mais impactantes em uma tarde no parque com as pessoas certas do que em uma noite de sexo. Queria experimentar heroína, no entanto. A química ainda é a melhor parceira sexual. Não sabem valorizar também, e essa aula devo ter dormido boa parte do tempo. Coisas sem sentido mas que trazem alegria momentânea sempre ganham, sempre. Foda-se o longo prazo, foda-se a conclusão. O fim nunca justificará os meios porque não tem nem a chance de se apresentar à turma. E mesmo assim fazem questao de demonstrar o quanto amam a vida. O quanto são abençoados por serem a mutação genética que acabaram se tornando, com a rodovia de sinapses sendo administrada por um governo nacionalista e, pior de tudo, cego de um olho. E ter só um olho, uma perna, ou qualquer coisa que o valha não é melhor, nunca vai ser. Quando se é cego ao menos nos conformamos com isso e procuramos reaprender a chegar ao mercado, e decorar onde ficam as bebidas. Agora alguém que só tenha um braço não passa disso, de alguém que só tem um braço. Até ai tudo bem, o problema é quando o sujeito tenta fazer questão de mostrar que consegue fazer tudo sozinho, e como superou as adversidades. Quem se importa, muita gente não deixaria na mão desse cara decisões de vida ou morte. A certeza de superação dele serve só pra ele mesmo, e ainda tenho minhas dúvidas. Agora imagine isso com todo mundo, onde menos um braço pode ser equiparado a não saber distinguir quais relações valem a pena serem cultivadas. A pessoa tenta como se não houvesse amanhã dizer a si mesma que sabe o que está fazendo, que consegue, mesmo tendo quebrado uns copos no passado, ela consegue. Não.

Atravessando paredes
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