Esses lugares sempre ficam entre outros dois lugares sem graça e cinzas, como uma floricultura e um bar por exemplo. Floriculturas são sem graça, admita. Não importa quantas flores tenham lá, ainda vai ser a mesma coisa, até uma venda de frutas é mais interessante.
O bar vai ter quadros com fotos de times posicionados e troféis, e nos sábados velhos barrigudos vão se reunir e chorar os bons tempos.
O lugar em questão era um bazar, de roupas e acessórios, o que multiplica por três a quantidade de coisas na loja no caso de ser somente roupas. Qualquer tralha pode se tornar um acessório, e como dizer não praquele senhor simpático tentando vender um chapéu feito de rolhas de cortiça, insistindo que era sim um acessório.
Então você podia encontrar todo tipo de coisa la, e vender todo tipo de coisa lá.
Era mágico, pros poucos que sabem ver a mágica onde outros só vêem tecido e uma presilha de cabelo. Saber que por um dia alguém se sentiu no topo do mundo usando aquele vestido, ou o maior herói de todos com aquelas botinas, e depois jogaram fora, venderam. Saber que objetos ali podiam ter mudado vidas, anéis que foram pedidos de casamento, caixinhas de música que também era porta-jóias e foram a trilha de meninas pequenas sozinhas em seus quartos a noite, sonhando com colares de pérolas e brincos de diamante para preencher a caixa.
Objetos bestas, roupas que não combinam com mais nada ali, tirando o fato que todas são empoeiradas e com as cores gastas, histórias interessantes, nada de novo e embrulhado em plásticos de estourar.
Me dei conta que estava há tempo demais ali, devia escolher logo o que levar. Vi um monte de almofadas em um canto que nunca tinha reparado antes, com uma placa enfiada entre as almofadas escrito: “Almofadas – Preço Único”.
Tentando não pensar em como uma almofada poderia ser um acessório, e como nunca tinha visto elas ali antes, tratei de revirar o monte e encontrar uma que gostasse.
Depois de revirar e revirar, encontrei uma porta atrás das almofadas, de aparência velha e que temos certeza que vai ranger. Olhei para os lados e me certifiquei que ninguém estava vindo, então abri, e ela rangeu. Do outro lado tinha uma loja.
Idêntica a outra loja, mas com plantas. Todo tipo de planta, não só flores, o que deixaria tudo sem graça.
A diferença ali eu parecia estar sozinho, mas só parecia. Pegadas surgiam no chão, de seres invisíveis que andavam pela loja normalmente. Não sei se os sons estavam ali o tempo todo ou se comecei a ouvir do nada, mas agora percebia o barulho do sino da porta quando entravam na loja, e risinhos animados de garotas. Comecei a procurar alguma planta pra levar, tentando não pensar em como diabos eu faria pra pagar por ela, já que não enxergava a atendente. Depois de muito tempo andando por plantas que nunca tinha visto antes, escolhi aquelas árvorezinhas pequenas famosas no japão, com nome besta. Só que nessa tinha um balanço no galho, e uma colméia de abelhas miniatura ou fosse lá o que fosse.
Sai sem pagar, assim, fácil, e apressado. Do outro lado da porta, a árvore virou uma flor de lotus, que comprei mesmo assim. Juro que dependendo do dia, nas luas certas, aquele mundo estranho volta, e a flor vira uma árvore em miniatura de novo, com um balanço e uma colmeia. Me pergunto quando vou jogar ela fora, e quem vai encontrar.
tantos lugares tolos procurando se esconder em paredes frias,carregando tanta coisa.