Crash

Segunda-Feira, 02
Porque esperamos na chuva um ônibus que vai nos levar a lugares que não queremos ir?
Porque fingimos que coisas que nos ensinam são mais interessantes que as que queremos aprender?

Quarta-Feira, 04
Não sei o que tinha naquela seringa, mas agora estou doente, e por mais que aperte os botões do controle remoto, o canal não muda.

Quinta-Feira, 05
Não, eles não nos injetaram nada, nós somos injetados, eles nos colocam em seringas e liberam em veias de pessoas sujas que nunca vimos antes.

Sábado, 07
Preciso dormir, não consigo dormir. Preciso de um corpo quente e bem cuidado, o meu está rachado e com fios soltos. Quando chegar a hora não vou conseguir te ajudar.

Segunda-Feira, 09
Queria ser um padre para poder perdoar as pessoas, por coisas que fiquei sabendo 5 minutos atrás. Ia me sentir bem comigo mesmo, eu consegui perdoar.

Terça-Feira, 10
Pequenos insetos correm por todo canto, pelo meu cabelo, no meu cachorro, roupas, na pia…

Domingo, 08
Não lembro se comprei minhas calças jeans rasgadas, ou se foram os insetos, ou se foi eu mesmo.

Segunda-Feira, 02
É triste pensar que se eu vivesse um dia inteiro ao contrário, ele seria a mesma coisa. É como se tudo fizesse o mesmo sentido de ponta cabeça. Não devia fazer.

Terça-Feira, 03
As baterias estão acabando, todas elas. Vão vazar aquele líquido estranho, e sujar as mãos.

Tudo que toco vira pedra.

É como jogar um peixinho dourado no mar. As intenções são as melhores de todo o mundo, sei disso. Mas as pequenas guelras dele vão arder com todo aquele sal, seus olhos vão saltar das órbitas e ele vai acabar boiando por cima de tudo aquilo.