Ai está, minha primeira exposição. Porque não estou feliz, contagiado pelos ânimos curiosos e surpresos admirando minha arte? Porque a única coisa que peço é sair dessa sala apertada e cheia de rostos tortos com expressões que dão medo?
Preciso respirar devagar, as paredes se fecham com minha respiração, o teto faz barulhos estranhos e parece que vai cair. Quando finalmente achava ter conseguido fazer arte sem medo, sinto medo de revelar minha arte.
Uma vozinha no canto escuro da minha cabeça diz que todos eles, esses seres de nariz empinado e roupas estranhas, são traidores, homenzinhos sórdidos, esperam você se virar para dar apunhaladas e então rir com as bocas escancaradas, ficando mais feios do que nunca, pisoteando sua cabeça no chão.
Uma mulher vem me comprimentar, diz que tudo está tão bonito, que de certa forma estou escrevendo a história.
– Não. – digo – Não estou escrevendo história, porque quem escreve são os vencedores, quem massacrou seus inimigos, somente essas lembranças ficam, somente a história deles segue em frente. Quem escreve a história são os vitoriosos, não os certos, não os de bem, não os fracos. Tudo o que você acha ser história, nada mais é que os diários de generais crueis, são contos de avôs e avós filhos de nações estúpidas. São lendas e mitos contados por homens arrogantes e presunçosos. A história é a maior piada que já tentaram nos fazer acreditar.
As pessoas saem assustadas depois de trocar algumas palavras comigo, com aquelas caras de “céus, ele é maluco”.
Não aguento mais e grito a plenos pulmões:
– Sim, sou maluco. Mas vocês são imbecis, todos vocês. Esperavam o que? Esperavam que eu fosse mais um? Se identificaram com minhas obras então acharam que eu seria mais um da sua laia supostamente incompreendida? Eu compreendo vocês, compreendo demais. São ignorantes, me dão ânsia de vomito. Não, vocês não vão se identificar comigo, não vão querer eu na mesma mesa tomando drinques e rindo de piadas sujas. Não quero seu dinheiro, peguem os quadros que quiserem, vamos, é só pegar e levar. Pendurem nas suas paredes limpas, com fita adesiva antes de pregar. Pendurem ao lado de quadros coloridos e mostrem as visitas gordas com mãos engorduradas.
E com uma risada de triunfo aquela vozinha saiu de fininho, não estava mais ali. O que eu tinha feito?
Andei de costas, olhando para todos eles e tropeçando em todo tipo de coisa, até encostar na parede atrás de mim. Sentei no chão, botei a cabeça entre os joelhos e abracei, balançando de leve, tentando lembrar de alguma canção de ninar.
Joguem o cordão umbilical, quero subir de volta.
Deus, um de seus filhos veio com defeito, se tornou um câncer preto e fedido, será que o Senhor poderia consertar? Prometo não chorar se tiver que tomar injeções.
Quer saber o sentido da vida? Eu aprendi relativamente cedo, aos meus 12 anos.
Feche os olhos.
Pronto, você também sabe agora.
Não tem faísca.
Não tem luz na escuridão.
Não vai vir um trem no fim do túnel.
E, se vier, vão te empurrar nos trilhos logo antes dele passar, e apontar para suas víceras e rir. Então vão puxar canetas de pena muito, mas muito bonitas, molhar em tinta e escrever que as locomotivas são a maior invenção da década, e céus, estamos atrasados para o mundo novo.
Joguem o cordão umbilical, quero subir de volta.eu poderia pegar uma carona? rsisso parece o ápice de uma crise existencial,gostei 🙂