Meu mais novo colega de cela conseguia viajar no tempo até uns dias atrás. Não tenho motivo nenhum pra acreditar nisso também, mas porque não, somos todos lunáticos.
Ele diz que a vida é uma linha reta, você não pode fugir dessa linha, no máximo pode mudar a direção alguns graus, mas sempre segue em frente. Então a minha linha bate com a sua linha, e alguém precisa ceder. O caminho tomado depois disso nunca é o mesmo pelo qual vínhamos. E se você nunca cedesse, e pudesse fazer o que bem entende?
É quase impossível, segundo meu mais novo colega de cela, continuar na linha reta sem voltar no tempo, pelos valores morais. Ai ele deu um exemplo prático, o exemplo que fez ele ser preso pra ser mais exato. Estava na sala de espera do hospital, e viu um extintor químico na parede. “O que aconteceria se eu pegasse esse extintor e esvaziasse na boca daquela senhora ali?” foi o pensamento lógico.
Ai as linhas batem. A dele, que queria pegar o extintor, a dela que provavelmente não gostaria nada do que seja lá o que pudesse acontecer e mais outras dezenas de linhas de pessoas observando, que não se contentariam em só observar.
Mas ele podia voltar no tempo. Podia esvaziar o extintor, saber o que diabos aconteceria e então voltar pra minutos antes das pessoas tentarem nocauteá-lo e chamarem a polícia.
Nessa altura já sabemos que não deu certo, ele não conseguiu voltar no tempo pela primeira vez, já que fez inúmeras coisas do gênero durante a vida toda. Eu tenho uma tendência a acreditar nesse tipo de história, quando ela é extremamente exagerada, e me orgulho disso. Fico pensando que no mínimo ele passou muito tempo elaborando aquilo tudo, tanto tempo que uma parte dele deve mesmo acreditar que seja verdade.
Comecei eu mesmo a duvidar da minha sanidade quando ele contou com detalhes (muitos detalhes) o que acontece se você colocar um gato no microondas, ou por fogo em si mesmo, ou jogar alguém dum prédio, ou tentar cortar a cabeça de alguém fora. Lembrando que ele voltou no tempo depois disso tudo, então o pobre gatinho não saiu machucado no fim. E meu mais novo colega também não é sádico, longe disso, ele tem um senso de culpa bem grande. A questão é que a curiosidade é maior. E diabos, se você consegue voltar no tempo, porque não?
Aproveito ao máximo essas devaneações. Um dia quem sabe meu mais novo colega de cela consiga voltar no tempo, pra momentos antes de esvaziar um extintor químico na boca de uma senhora na sala de espera do hospital, então não vou mais me lembrar de nada.