Acordo flutuando, num deserto que se estende até onde consigo enxergar.
Percebo que não estou realmente flutuando, mas deitado no topo de uma torre invisível. Consigo me apoiar e levantar. Dar pulos pequenos é assustador quando não se vê o chão onde vai cair.
Toda a cidade é invisível, transparente. O que está lá, está lá, não existem becos escuros nem esquinas para perder algo de vista.
Ai começa a chover, e tudo aparece, os contornos dos prédios e silhuetas de postes de luz. A água bate e você consegue formar as coisas, como se o vidro da janela só existisse quando batemos a cabeça nele, ou nos cortamos juntando cacos.
Começo a me ver de cima, como se minha alma saísse do corpo. Ali estou, no meio da cidade invisível, molhado e de braços abertos. Ali estou, subindo e olhando meu corpo ficar pequeno, pensando na resposta pra única pergunta que vou querer fazer ao chegar.
Porque chove?
ou por que só eu vejo a chuva?