Ela se pegava torcendo para que comentassem ‘vai estar vazio demais lá’ ou qualquer coisa nesse sentido.
Não sonhava mais com mundos surreais, criaturas bizarras ou poder voar, só queria um porão que vendesse bebidas e fosse pouco (ênfase em pouco) frequentado.
Desejos minúsculos que na maioria das vezes eram tão distantes como ilhas voadoras e trens com asas.
Mas as coincidências que nosso amigo Murphy proporciona sempre levaram-na a suspeitar de que existia algo conspirando. Alguém controlando os fios, fisgando e logo quando o peixe estivesse saindo da água, já conformado e pedindo somente que os tomates com que seria servido fossem frescos, a linha seria cortada, sem motivo. Você pode ficar livre, mas ainda carrega o anzol preso na boca.
Queria mesmo que os lugares estivessem sempre vazios demais. Queria que lhe poupassem todos os comentários desnecessários e tentativas de amizade. Ou melhor, queria amigos descartáveis (superficiais, que seja) mas silenciosos.
Isso nunca parecia acontecer. Seu principal motivo de tristeza agora era chegar a conclusão (muitas e muitas vezes) de que não conseguia mais pedir por mundos impossíveis. Queria mundos possíveis, simples, cheios de pó e rachaduras. Mas nem isso conseguia.
Indo embora presenciou um sujeito se jogar do 5º andar logo do seu lado, mas estava distraída demais e não parou. Um pedestre segurou ela pelo braço e gritou, como se precisasse botar qualquer culpa em qualquer um “Porque nem olhou pra ele? Hein? Porque passou reto como se nada tivesse acontecido?”. Ela começou a chorar e disse que nada aconteceu, mas não sabia o sentido das palavras dele. Nem das palavras dela mesma.
lindo *-*
É. Algumas coisas são inexplicáveis mesmo. Nos tiram do eixo. Eu estou assim como ela, o mundo caindo e eu continuando. precisaria de um kilo de amigos silenciosos também. Ou apenas um que me calasse, vez ou outra.Um beijo!