Essa é a história de um menino sem nariz.
Um dia quando fugia dos quatro vizinhos que sempre pegavam no seu pé, por ele não ter nariz, ele entrou numa floresta. Correu e correu, sem olhar pra trás. Parou atrás de uma árvore, encolhido, e começou a chorar, de novo.
Ele nunca tinha ido tão longe naquela floresta, mas cada vez que fugia dos vizinhos que sempre pegavam no seu pé, eles tinha mais coragem de entrar e seguir ele.
Não sabia onde estava, ou se conseguiria voltar a tempo do jantar. Andou um bocado, até o papelão que tampava o furo no seu sapato direito rasgar. Sentiu seu pé molhado, e quando viu tinha uma poça enorme no chão. Não parecia ser funda, mas seu pai faria ele lavar as meias 3 vezes seguidas se voltasse com elas sujas e úmidas.
Ficou olhando para a poça, ou melhor, para o reflexo dele mesmo na poça.
O engraçado era que o reflexo parecia ser vivo, sorrir mais que ele mesmo, olhos mais brilhantes, nem ligava pro fato de não ter nariz.
Ele se aproximava cada vez mais da poça, parecia que o reflexo dele mesmo sussurrava, pedindo para ele chegar mais perto.
Quando seu rosto entrou na água ele abriu os olhos, sentiu algo realmente estranho, e tirou o rosto da água rapidamente. O reflexo continuava lá, mas seu sorriso era diferente, era maldoso. O reflexo virou e foi embora, assim, sem mais nem menos.
O menino sem nariz percebeu que ele era o reflexo agora, preso ali na poça. E o pior, não tinha nada pra refletir, ele sequer devia existir agora.
O mundo da poça era diferente, ele não estava sozinho la, mas não conseguia ver mais ninguém. Só sentir, sentir os reflexos de todas as coisas do mundo, ora, lá era o reflexo do mundo inteiro.
Ele ficou la sozinho por anos, nada acontecia nunca. Mas ele sentia várias coisas, sentia cada vez que alguém morria tudo ficar em silêncio na poça, como se em respeito ao reflexo que ia embora.
Mas o menino sem nariz cansou de esperar, cansou de torcer para que seu reflexo voltasse e trocasse de novo de lugar com ele.
Cansou de viver na poça…