Cavalo Branco na H4. Cheque.
Um pelotão de fuzilamento geralmente é composto por 4 a 5 soldados, desconhecidos ao condenado, e sem envolvimento pessoal com os motivos que levaram a execução.
Eles ficam atrás de uma parede com buracos para enfiar os rifles, e só vêem o condenado quando ele está com um capuz preto.
Um dos rifles é carregado com balas de festim, para que nenhum dos soldados saiba realmente quem disparou o tiro que matou o homem. Eles são instruídos a atirar diretamente no centro do círculo colocado de forma a ficar na frente do coração do condenado, e qualquer disparo fora dessa zona será devidamente averiguado e punido.
Cerca de trinta por cento dos soldados envolvidos em uma execução por pelotão de fuzilamento concordam que não saber se você matou alguém, é pior do que saber.
Rainha Preta come Cavalo Branco.
Minha bisavó passava o dia tricotando. Meias, gorros, suéteres, cachecóis. Todos com iniciais dos nomes do netos e bisnetos, e cores variadas. Eu não culpo ela por ter feito o que fez, ser velho deve ser uma droga. Você não consegue nem mijar sozinho sem molhar tudo. Ela vivia na casinha aos fundo da minha casa, sozinha. Essa é a forma dos adultos dizerem “saia daqui velha inútil” ao mesmo tempo que dizem “te amamos vóvó”.
Ela começou a tricotar o que parecia ser uma meia, mas fina demais, e comprida demais. Depois parecia um cachecol, mas redondo demais. Quando perguntavam o que era, ou pra quem era, ela sorria e acenava que sim com a cabeça. Isso não queria dizer nada, veja bem, e nunca vamos saber se ela tinha perdido o juízo ou se só fazia aquilo porque sabia que ninguém iria questionar.
Quando acabou, era uma corda para enforcamento, dessas que se enfiar em volta do pescoço, bonita, de lã, duas cores com um fio mais grosso dourado entrelaçado.
Até hoje perguntam como diabos ela prendeu a corda ali em cima, subiu no banquinho e pulou, tudo sozinha.
Bispo Branco na A2. Cheque.
Só era um lápis com a borracha na ponta maior do que a parte de escrever.
– Para quem comete muitos erros. – disse o vendedor.
Rei Preto na F8.
Carassius arautus, nome científico do simpático Peixinho Dourado. O cérebro deles vive em ciclos de trinta segundos. A cada trinta segundos ele esquece os trinta segundos anteriores, ou seja, esquece de tudo que sabia até aquele momento. Agora imagine um aquário enorme com muitos peixinhos dourados e, ninguém sabe como, fios de alta tensão caem na água, matando todos eles.
Alguns vão morrer conhecendo somente a felicidade, se assumirmos que nos últimos 30 segundos ele estava feliz. Outros tristes, outros com medo, outros com fome. Vão ter conhecido o melhor amigo da sua vida toda, ou o inimigo mais cruel. O par perfeito, e a dor.
É como se eles nascessem a cada trinta segundos, para uma vida inteira cheia de possibilidades e descobertas, que só vai durar trinta segundos.
Torre branca na F6. Cheque Mate.