O sujeito mais cético que conheci não tinha nenhum costume supersticioso, religioso ou relacionado ao sobrenatural. Ele não tinha cabideiros também, aqueles que penduramos casacos e chapéus, porque podem fazer sombras duvidosas. Vejam, o problema, segundo o sujeito mais cético que conheci, era que caso ele acordasse a noite e visse alguma aparição, demônio, fantasma, alienígena ou algo que o valha, ninguém com credibilidade acreditaria. Somente os “lunáticos que participam de grupos reverenciando todo esse tipo de baboseira”. Então ele mesmo ficaria louco, pois tudo aquilo em que nunca acreditou seria verdade. E no fim poderia ser apenas a sombra do maldito cabideiro. Maldito aqui usado de forma leviana, pois “não existe a menor chance de um cabideiro de roupas estar amaldiçoado ou ser lar de alguma entidade demoníaca”.
Mas nem mesmo o sujeito mais cético que conheci acreditou quando físicos renomados afirmaram que o planeta estava literalmente caindo. Sabe, quando dizem “se o mundo cair”. Então, caiu. E não tínhamos explicação nenhuma, primeiro porque o universo teoricamente não deveria ter chão, ou pelo menos ninguém tinha olhado pra baixo. Só sabíamos que estávamos caindo, sem ter certeza de pra onde ou porque.
Minutos antes da gigantesca bola de minerais atingir algo que alguns pesquisadores, se estivessem oportunidade, chamariam de solo, outros de depósito, outros de ‘insira aqui denominação geográfica qualquer’ , eu cozinhava um rocambole de carne. Cozinhar é terapêutico, pensamos em tudo que é merda menos nos problemas. Porque aquela atividade vai ter um resultado rápido e eficiente, partindo do princípio que você não vai queimar o ovo frito. Poucas coisas se equiparam a comer algo que você mesmo cozinhou e precisou de relativo esforço. Talvez seja a maior conquista do nosso amontoado de células chamado de homo-qualquer porra em itálico.