Misery Loves Company

O mundo das pessoas é muito, muito menor do que imaginamos. Meu mundo por exemplo, começava dentro de uma casca de noz, e acabava no final de um rolo de lã vermelho.

Mas nosso amigo de hoje, um soldado de chumbo que ninguém sabia porque não tinha armas com ele, teve aventuras únicas. Tudo começou quando ele resolveu montar uma casa de madeira. Oras bolas, o que seria melhor do que ter sua própria casa, e passar os dias inteiros fumando cachimbo e tomando chá?

Pois bem. Saiu andando, sem chapéu nem botas, para procurar pedaços de madeira bons o suficiente para construir sua casa. Andou e andou, sempre em linha reta, quebrando galhinhos para saber por onde voltar.

Viu alguém caído com a cara no chão, e fazendo uns barulhos estranhos. Pegou um graveto e cutucou a coisa peluda. O ursinho levantou com a cara suja de lama, e deu um soluço. O soldadinho riu alto, então os barulhos eram soluços. E o ursinho riu também. Depois de explicar sua história para o urso, os dois sairam andando em procura de madeira. Os soluços viraram sua trilha sonora.

E o garoto acordou com sua mãe chamando. Sentou na mesa vazia de café, e ficou rasgando alguns folhetos que encontrou na rua. Eram quebra-cabeças para ele.
Sua mãe veio e amassou os papéis e jogou no chão, mandando ele pegar e jogar no lixo la fora.
Quando voltou ela deu um tapa na cara, e falou para ele parar de sonhar com coisas estúpidas como ursinhos soluçando e soldados de chumbo.
Falou que ele não iria a lugar nenhum, para repetir com ela “eu não vou a lugar nenhum”. Ele repetia e abraçava ela, com lágrimas nos olhos.

Um dia o menino morreu com uma gripe comum, porque não contou a sua mãe, que estava ocupada demais com homens estranhos no quarto e espalhando fumaça por ai.

Ele viu anjos no céu e perguntou se podia enviar uma mensagem para sua mãe dizendo que estava bem, tudo bem mamãe, só estou aqui em cima.