Conheci um menino que dizia sentir o cheiro das cores.
Dizia que o anil tinha cheiro de baunilha.
Ele regava os jasmins de sua mãe todos os dias quando o sol se punha, regava com um regador amarelo, que cheirava a torta de limão, e botava 2 gotas de vinho na água para regar.
Dizia que sua vó o ensinou.
Um dia passou a conversar com insetos. “Os louva-a-deuses são ateus, e ao contrário do que pensamos, adoram os gafanhotos”.
Outro dia ganhou uma fazenda de formigas, e dizia que elas planejavam uma revolução armada em prol do alcaçus.
Faz um mês que ele não sente mais o cheiro das cores, não rega mais os jasmins, não põe vinho na água, e não fala com insetos.
Ele foi enterrado num cemitério para animais de estimação.
Enterrado vivo pelas formigas, na cova aberta do são bernardo que foi enterrado no outro dia.
