Passive Agressive Bullshit

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Por anos adiei o inevitável nó na corda que prenderia meus últimos momentos nessa fase orgânica da existência porque não conseguia deixar de pensar na pobre pessoa que teria que me encontrar. E provavelmente essa pessoa seria algum familiar ou amigo próximo, o que deixa tudo mais difícil. Até poderia numerar um ou dois amigos que entenderiam completamente e tentaria esconder a coisa toda, mas sei que no fundo eles mudariam. Sempre adiei até chegar a conclusão do porque existem cemitérios. Porque as pessoas honram os mortos, porque fazem questão de nunca deixar mágoas, porque se sentam mal ao “profanar” quem já bateu as botas. Ora, eles querem eliminar qualquer possibilidade de chegar la, seja la onde o ‘la’ for, e serem recebidos a tomatadas. Não querem que sua nova vida como ser-coberto-por-lençol seja turbulenta e cheia de inimigos. Os vivos são nossa menor importância, e isso já foi falado de diversas formas, mas somos imbecis demais para entender. Minha família vai ter surtos clássicos de depressão e dramaticidade, mas logo seguem com o sentimento de que “foi o melhor para mim”, e “ele era diferente desse mundo, está num lugar melhor”. Agora os mortos não. Preciso ir urgente mente ao cemitério e fazer as pazes com meus antepassados, preciso trocar algumas palavras com avós que nunca conheci e amigos que peguei no pé, tenho que garantir que vão me defender na frente do senhor maior e eu poderei arrumar um lugar decente na outra vida, porque essa já não faz muito sentido.

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