Pimenta

Pimenta

Categories blur


Já repararam que as coisas se tornam assombradas de uma hora pra outra?
E geralmente por fantasmas que nem eram assim tão envolvidos com a coisa toda.
Essa rua por exemplo, com cercas baixas de um lado e cercas altas do outro, árvores de folhas grandes que secam no início do outono, fazendo aquele tapete de tons pastéis.

Não tinha lendas ou histórias que senhores cabisbaixos da casa da esquina contaria a crianças assustadas. Só era uma rua, que surgia e acabava sem percebermos.

Até que um dia de primavera, ironicamente bem diferente do que contariam anos depois, com flores aqui e lá e aquele cheiro de terra, uma menina desapareceu. Ela não morava ali, ninguém a conhecia, não tinha história e se eu fosse apostar (perdoem pelo excesso de sensatez e sinceridade) diria que ela nunca existiu, senão por aqueles momentos onde cruzava a rua, e desapareceu.

Foi preciso só uma testemunha para dar início a avalanche de suposições.

A rua sempre foi assombrada, sempre víamos fantasmas, diziam os mais novos.
Sentia calafrios quando atravessava, diziam os não tão novos.
Disseram que ela foi construída em cima de um cemitério indígena, diziam os mais velhos.

E a menina continuou lá, aparecendo para alguns azarados, sorrindo e tentando chegar do outro lado.

Logo as pessoas começaram a se mudar, e ninguém queria viver ali.
Tudo ficou quieto e as ervas daninhas tomaram conta, o tapete de folhas durava por todas as estações e as cercas tinham trepadeiras penduradas.

As lendas viraram mitos. Diziam que todos tinham sido assassinados, que a menina matou os pais e comeu seus olhos, e somente gatos pretos conseguiam viver ali.

Passei a morar na casa número 12, perto de onde ela desapareceu. Não vi nada até hoje, mas confesso que ouço coisas estranhas. Quem não ouviria, no silêncio completo nossa mente prega suas próprias peças.

Categories blur

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *