Em um dia de sol em um sítio qualquer, eles tinham um almoço em família. E nesse dia, logo depois de se dar conta que estava olhando para a mesma formiga no chão por muito tempo, a garotinha de olhos amarelados sumiu.
Tudo que some aparece em algum dos milhares de mundos pequenos e estranhos de que ninguém nunca ouviu falar. Ela foi parar em um campo com a grama branca, e flores brancas, e árvores secas. Tudo ali dava a impressão de ser estranho. Como se juntássemos uma pessoa de cada país no mesmo lugar.
Falando em pessoas, tinham várias, mas ao mesmo tempo nenhuma. Elas sumiam e apareciam o tempo todo, o que tornava os diálogos complicados.
Demorou 4 ou 5 encontros até que a garotinha conseguisse uma resposta sobre onde estava. E a resposta foi ‘ao lado de Nenhum. Nem queria perguntar o porque de todo mundo desaparecer assim, com certeza não daria tempo de ouvir uma resposta.
Depois de muito andar por ai sem rumo, decidiu sentar no chão e esperar qualquer coisa acontecer.
Um sujeito com roupas esfarrapadas parou do seu lado e perguntou que horas eram. Ela respondeu que eram três e trinta, sem razão, e ele pareceu ter aceitado isso.
A garotinha percebeu que o sujeito não desaparecia, e perguntou a ele tudo. Como assim tudo? Ora, todas as perguntas possíveis, do jeito que garotinhas fazem.
Ele explicou que todos ali eram palavras, ele mesmo era uma palavra, no caso ‘Quintessência’, e que eles apareciam quando alguém escrevia a pessoa, e desapareciam quando alguém apagava.
Como quase ninguém escrevia quintessência, ele costumava ficar muito tempo ali. Tinha pena de alguns, como os pronomes e alguns verbos. E aconteciam coisas divertidas, como os erros. Eram palavras que de tanto insistirem que existiam, elas acabavam existindo mesmo, mas sofriam de crises existenciais horríveis quando descobriam que eram um erro.
A garotinha pensou e pensou e se levantou de sopetão. Porque ela estava ali? Não era palavra nenhuma. Não que soubesse pelo menos, e se fosse, como descobriria que palavra ela era? E se ninguém nunca mais a escrevesse? Oh céus que vida complicada essa das palavras.
O Sr. Quintessência começou a rir e explicar que não era assim que as coisas funcionavam, quando você era uma palavra, você…
E sumiu.
Maldito ser que resolveu escrever quintessência, quem diabos escreve isso, ela pensou.
E saiu por ai. Encontrou o Sábado, o Porém, as Amígdalas, que disseram estar em desuso, fosse la o que fosse.
Depois se cansou e começou a choramingar. Não era palavra nenhuma, mas mesmo assim tinham apagado ela. Esquecido. Não conseguia pensar em ninguém que talvez viesse a escrever seu nome, ou ter saudade, ou lembrar dela quando se sentasse num balanço.
Estava no mundo dos apagados, e ali ficaria.
Primeiro que me fez lembrar Nirvana e isso por si só merece uma salva de palmas.E tira essa garotinha dali, ela ainda tem muito o que ver e escrever!=)Beijos
Que triste.=/Ainda assim, bom texto. Bem escrito, ótima imaginação.^^=**