Praesenis

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Mais um daqueles dias onde me sentia sortudo por ter o trabalho que tinha. Não era um dia bom, veja bem. Era um dia de merda, e estava apenas começando. O caminho do boteco até o trabalho era longo, mas eu chegaria algumas horas antes do expediente. Era a única forma de não me atrasar, pois se escolhesse ir até em casa (e comer, trocar as roupas, olhar pro teto) não conseguiria chegar a tempo. Disse sortudo porque era o único lugar que tolerava esse comportamento, nunca entendi muito bem o motivo. Acho que todos tinham pena de mim, mas eu fazia o que deveria ser feito, então não ouvia reclamações. A pior parte, disparado, era esperar até o porteiro abrir. Você está lá, sozinho, depois de uma noite bizarra que não lembra direito, naquele estágio inicial do que eventualmente pode ser uma das piores ressacas da sua vida. É um fundo do poço curto, mas fundo ainda assim. E, quando já absorto em pensamentos nem um pouco agradáveis, ouve uma voz distante dizendo que sua camisa tem ‘uma manchinha roxa, talvez seja bom passar aquele produto novo que estão anunciando em todo canto, depois me diz se é bom’, acorda num pulo e precisa lembrar qual a sua função no lugar. Precisa pensar duas, três vezes, quais os passos a serem seguidos, pra não esquecer de nada e com isso acarretar interações desnecessárias. Era simples de se viver, você só precisa evitar chamar atenção. A atenção só traz problemas. É como aquela roupa de domingo que sua mãe insistia pra que colocasse antes de ir na igreja, fica bonito sim, mas incomoda, e seu dia vai ser ruim porque envolve todo um controle de comportamento. A roupinha de domingo é uma coleira. A atenção é uma coleira. Mas é uma coleira boa, de marca, sua família vai se orgulhar tanto.

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