Rítmico

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Poderia ser bem pior. Recomendo essa frase.

Esse era meu mote, algo que sempre dizia para estranhos:

– Um dia vou tatuar essa frase bem aqui – enquanto apontava para o antebraço.

Nunca tatuei, nunca vou tatuar. Tenho medo de agulhas, e de tatuadores que parecem saídos de circos de horrores dos anos 50. E de caramujos. Caramujos são alienígenas, fingindo que rastejam por ai, com suas anteninhas apontando para todos os lados. Caramujos são como alienígenas e grandes corporações. Eles sabem mais do que vocês imaginam. Eles vão voltar para nos buscar. E no fim, vou olhar para todos, do canto da cela, enquanto brinco com dois gravetos que encontrei por acaso:

– Poderia ser bem pior.

Na última quinta-feira devaneei tanto para um sujeito ensebado do boteco que acabei em algum país europeu com casinhas engraçadas. Recomendo abstraírem certos acontecimentos de noites em que beberem um pouco demais. Assim, deliberadamente. Comecei pagando um drink ruim para o recém chegado, só para ver sua reação. Recomendo isso também. Pague uma dose do drink mais estranho que conhecer, e comece seu estudo social. Vários outros passos aconteceram (esses eu esqueci, e você deveria esquecer da mesma forma), e no fim acabei nessa cidadezinha que deveria ter uma lei proibindo maquinário de terraplanagem, nunca vi tantas colinas. E casinhas engraçadas. E vendedores de doces.

Não deseje demais. Recomendo isso para a vida toda. Deseje algo estúpido e incomum, vai ser mais fácil de encontrarem no estoque. A entrega leva o mesmo tempo, infelizmente. Mas a espera pelo homem das cartas é divertida, não importa a encomenda.

Vinte minutos depois de acordar no país engraçado fiz amizade com uma senhora que alimentava os pombos em uma esquina que não tinha nada de poético. Não era uma praça, ou um banco de frente pro oceano. Era a sua esquina, ai da sua casa. Como se você saísse agora mesmo para alimentar os pombos. Ela me disse que na verdade não existia pombo nenhum, e eram todos ratos emplumados. Perguntei se isso não os caracterizava como pombos. Ela jogou migalhas de pão na minha cara e perguntou se isso me caracterizava como um rato de esquina.

Se minha vida toda fosse resumida em um comercial de tevê, ele teria 30 segundo igual todo outro comercial. Mas se por acaso você gravasse em uma fita VHS e revertesse a imagem, seria sobre amendoins.

Em uma sucessão de eventos curiosa, envolvendo a velha, um vaso de orquídeas e mais caramelo do que conseguiria imaginar, fui preso. Em toda viatura policial desse lugar existe um ursinho de pelúcia, para casos envolvendo crianças. Todos deveriam andar com ursinhos de pelúcia, para casos envolvendo crianças. Essa ideia toda me comoveu. Recomendo andarem com ursinhos de pelúcia, para casos envolvendo crianças. Olhem eles nos olhos (os ursinhos, não as crianças), e digam:

– Poderia ser bem pior.

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