Aquelas coisas que você sabe estarem certas, mas não admite porque uma vez que encontrou a resposta tudo perde a graça. Bobagem.
Sei que meu forte de cobertor é o melhor lugar do mundo pra mim. Deve ser pra bastante gente também, mas eles nunca vão admitir, nem construir seus próprios fortes de cobertor.
É bem simples, é só fazer uma tenda, usando cadeiras ou qualquer coisa que deram nomes e funções sem graça, mas que na verdade sempre foram feitos pra servir de apoio para seu forte de cobertor. Lá dentro vai ser quente, seguro, escuro na medida certa.
Você leva o que quiser, e as coisas que se cansar pode jogar pra fora.
Não precisa mais conversar com quem não quer conversar, ou sorrir pra quem não quer sorrir. Não vai precisar agradecer, se desculpar, dizer bom dia. Não vai ter que falar “não se preocupe, estou bem” quando pessoas que nunca viu na vida tentam parecer prestativas e perguntar porque você está sentado, a noite, sozinho no meio-fio.
Procure levar plantas, elas são mais sinceras do que colegas de trabalho por exemplo.
Peixes vão gostar mais de você do que algumas tias gordinhas.
Brincar com um jardim de areia é mais divertido do que qualquer festa.
Dentro do seu forte de cobertor você pode ser quem bem entender. Sem ter que provar isso para doutores carecas com cheiro engraçado e fazer provas compridas sobre coisas que alguém algum dia disse ser importante.
Ali dentro não tem mais dores de barriga. Aquelas que aparecem quando acordamos com o pé esquerdo e lembramos que não, não podemos ir pescar. Temos deveres.
Não tem mais dores de garganta que vem depois de “ah eu entendo, só espero que você seja feliz”.
Não existem alarmes de carros. Ou semáforos. Ou senhores de bigode estressados demais com manchas de café na gravata.
O mundo é seu. Vai perder o interesse pelo que está fora dele quando passar a ver através do cobertor. Luzes ébrias, cores apagadas e sons distantes. Tudo vai se transformar em uma massa de formas disformes.
Não me importo, está quente aqui.